Depois de duas semanas de protestos à porta de hotéis na cidade do Porto, os trabalhadores do setor do turismo manifestam-se, esta manhã, na baixa da cidade. Em causa está o descontentamento com os baixos salários, a falta de formação e o excesso de trabalho.
À Renascença, o presidente sindicato que representa o setor no norte avança que as empresas estão a contratar cada vez mais migrantes, sem garantir boas condições e formação para estes funcionários. Francisco Figueiredo indica que há empresas a aumentar os preços dos serviços sem retribuir o esforço dos trabalhadores e descreve uma situação social grave no setor.
“As empresas recusam negociar salários dignos, as associações patronais recusam negociar salários dignos. Reclamam do Governo corredores de imigrantes, mas não garantem formação profissional, acompanhamento, formação técnicas, nas línguas portuguesa e inglesa, nem contratos por tempo indeterminado para esses trabalhadores”, denuncia.
Segundo Francisco Figueiredo, a situação social que se vive no setor “é uma situação grave”.
“Muitos trabalhadores abandonam o trabalho que não aguentam os ritmos de trabalho intenso e as empresas não fazem nada para mudar. Queixam-se da falta de trabalhadores, mas o que querem é trabalhadores migrantes para aumentarem a exploração e precariedade”, observa.
Precariedade laboral é um dos pontos mais contestados
Francisco Figueiredo explica que as empresas continuam a aumentar os preços dos serviços sem ser feita uma retribuição aos trabalhadores.
"Os hotéis estão completamente lotados a nível nacional e os patrões estão a engordar sem distribuir a riqueza pelos funcionários. Há hotéis que hoje estão lotados a 100% por não ter trabalhadores, mas especulam nos preços. Isto é, como não podem aceitar mais clientes, por não ter trabalhadores, especulam nos preços. Em vez de pagar preços dignos por funcionários, preferem aumentar os preços para os clientes e resolvem a situação”, denuncia.
A falta de formação e aposta em trabalhadores qualificados já coloca em causa a eficiência do serviço na área do turismo em Portugal. Segundo o presidente do sindicato que representa a área no norte, a degradação tem sido visível nos últimos anos.
“Portugal já foi conhecido pela boa qualidade do serviço, mas de há uns anos a esta parte a situação tem vindo a piorar. Com a pandemia foram despedidos brutalmente cerca de 100 mil trabalhadores e esses não voltaram para o setor. As pessoas que estão a entrar, entram sem formação nenhuma e os emigrantes têm dificuldades de línguas que as empresas não ensinam. A qualidade do serviço está de rastos”, alerta.
Francisco Figueiredo exemplifica de que forma tem existido a degradação do serviço. “Quando alguns hotéis não têm empregados de quartos, têm prestadores de serviços e todos os dias há trabalhadores novos num hotel de 4 e 5 estrelas a fazer camas, que não sabem fazer. Vão acompanhados por outra pessoa que está apenas há uma semana, ou duas, ou um mês ou dois e isso põe em causa o serviço. A mesma questão na restauração. As pessoas têm de ter formação.”