Rayan, a criança de cinco anos que caiu num poço em Marrocos, permanece ainda encarcerada a mais de 30 metros de profundidade. Os operacionais de socorro já estão a cerca de dois metros de Rayan, mas agora avançam muito mais lentamente para evitar qualquer deslizamento de terras de consequências imprevisíveis. Segundo os meios de comunicação presentes no local, o resgate poderá estar a quatro horas de ter um desfecho.
À Renascença, o comandante Manuel Veloso, antigo vice-presidente da Proteção Civil, explica por que razão o resgate está a demorar tanto tempo. "As coisas estão a ser feitas da forma que têm de ser feitas, com a lentidão necessária para se atingir com segurança o menino", explica.
"De madrugada, quando ouvi o porta-voz das operações, senti que, de facto, se estava a fazer aquilo que se devia fazer", adianta o comandante, para quem "o avanço tem de ser feito de forma lenta e segura". Em causa poderá estar "qualquer deslizamento", que determinaria um "começar de novo".
O porta-voz das equipas de salvamento sublinhava aos jornalistas, durante a madrugada, que é grande a esperança de resgatar Rayan com vida e em segurança, não avançando, contudo, uma previsão temporal para o fim desta operação de resgate. No entanto, e no entretanto, a equipa de resgate deparou-se com uma rocha que dificultou as operações.
De acordo com a agência noticiosa Maghreb Arabe Presse, o obstáculo foi ultrapassado ao fim de três horas, mas o processo atrasou os trabalhos, por perigo de colapso do poço. A criança está, agora, a escassos dois metros dos socorristas. De acordo com uma publicação local, a Le360, dois socorristas estão a escavar manualmente os últimos centímetros que os separam de Rayan. Um helicóptero também já se encontra no local para transportar a criança para o hospital. Por lá também segue uma ambulância equipada prestar auxílio urgente a Rayan, no caso de um resgate bem sucedido.
O rapaz, cuja situação está a atrair o interesse nacional e internacional, caiu acidentalmente na terça-feira num poço seco, de 32 metros de profundidade e estreito e, portanto, de difícil acesso, cavado perto da residência da família na vila de Ighrane, perto da localidade de Bab Berred, na província de Chefchaouen.
Milhares de pessoas viajaram até ao local, alguns de longe, em sinal de solidariedade e têm estado acampados naquela zona, apesar do frio naquela região, noticiou a agência France Presse (AFP).
Apesar das poucas informações divulgadas sobre o progresso dos socorristas, sabe-se que estes não estão longo do objetivo.
"Ainda tenho esperança de que tragam o meu filho vivo"
"Estamos quase lá. Há três dias estamos a trabalhar duro. A fadiga já se sente, mas todas as equipas de resgate estão a resistir apesar dos imprevistos", revelou um supervisor das operações, Abdesalam Makoudi.
Os socorristas transportaram oxigénio e água para o fundo do poço, o que sugere que Rayan ainda está vivo, de acordo com os meios de comunicação locais.
Segundo as autoridades locais, a operação de resgate entrou numa fase decisiva, com a início da perfuração de um túnel horizontal de três metros para chegar à criança.
Esta fase de resgate é delicada devido ao risco de deslizamentos de terra por causa da natureza do solo, com algumas camadas arenosas e outras rochosas.
As autoridades locais revelaram ainda à AFP que uma equipa médica está pronta para resgatar a criança do túnel horizontal, assim que esta sair.
Um helicóptero médico está também preparado para ser acionado.
A mãe da criança disse à imprensa local que o filho "estava a brincar perto" da casa e que "desapareceu [na terça-feira] por volta das 14:00", mobilizando a família "para o procurar" até que repararam que ele tinha caído no poço.
"Ainda tenho esperança de que tragam o meu filho vivo", declarou.
A tragédia tem gerado muita solidariedade nas redes sociais: esta manhã as transmissões ao vivo de vários meios de comunicação marroquinos continuaram a atrair centenas de milhares de utilizadores na Internet.
Além disso, muitos habitantes locais juntam-se no local do acidente, o que por vezes dificulta o trabalho das equipas de salvamento.
Este acidente ecoa uma tragédia que ocorreu no início de 2019 em Espanha, na Andaluzia, quando uma criança de dois anos morreu depois de cair num poço abandonado com mais de 100 metros de profundidade.
[notícia atualizada às 11h40 de 5 de fevereiro de 2021]