A menos de uma semana do arranque dos Jogos Paralímpicos está "tudo mais que pronto" no seio da missão portuguesa. Em Paris, o quartel-general dos 27 atletas já está "decorado" e à espera. Bola Branca conversou com o chefe da missão paralímpica, que não tem dúvidas sobre o estado de espírito entre a comitiva.
“Estão ansiosos por começar a competir, chegar a Paris e
demonstrar aquilo por que se esforçaram tanto durante três anos”, afirma Luís Figueiredo.
Tal como com os atletas olímpicos, a preparação entre ciclos foi encurtada um ano e, em vez dos habituais quatro anos, os paralímpicos tiveram três para se preparem entre o ciclo de Tóquio e o de Paris. E, tal como nos olímpicos, a pressão sente-se.
“Estamos tão pressionados como os olímpicos. As condições são iguais para ambos os lados. Havendo condições iguais, as responsabilidades também são iguais”, assegura o chefe de missão.
Os objetivos e metas estão traçados, as medalhas e os diplomas são mais do que sonhos, mas o discurso procura aliviar o peso intrínseco a quem compete ao mais alto nível.
“A política do Comité Paralímpico em geral, e da missão paralímpica em particular, não é pedir aos atletas medalhas e diplomas. Aquilo que pedimos é que façam o melhor e que tentem atingir as finais, porque aí tudo é possível. Sem estarem na final é que dificilmente vão conseguir os objetivos”, reconhece Luís Figueiredo.
Portugal já suspira pelos tempos áureos em Jogos Paralímpicos. Passa quase um quarto de século desde que, em 2000, a comitiva arrecadou 15 medalhas, entre elas seis de ouro, na melhor missão de sempre. Para amostra de Tóquio sobram duas medalhas de bronze de Norberto Mourão, na canoagem, e Miguel Monteiro, no lançamento do peso. Estes dois atletas vão estar também em Paris. Este emagrecer do medalheiro explica-se pelo travão que vem desde a base.
"A sociedade portuguesa e, principalmente, as famílias têm de olhar para o desporto paralímpico como uma arma para o desenvolvimento da criança. O desporto paralímpico não faz mal aos jovens", reforça o chefe da missão paralímpica portuguesa a Bola Branca.
Tal como no desporto não adaptado, o tema dos apoios surge, mas Luís Figueiredo quer desmistificar o significado da palavra. Apoio é, muitas vezes, mais do que financiamento.
"Estes atletas precisam de apoios de infraestruturas, locais de treino, condições para treinarem, apoios para se deslocarem. Os atletas de cadeira de rodas precisam de duas pessoas para se deslocarem, de uma viatura e de um local de treino próximo de casa. É deste desenvolvimento de que o país precisa”, lamenta.
O desporto paralímpico já se equipara ao olímpico na atribuição de bolsas aos atletas. Já "há igualdade de circunstâncias", mas falta o resto. “O atleta paralímpico já faz treino bidiário. Tem de ter condições para o fazer. Não pode ter infraestruturas a 30 quilómetros de casa”, exemplifica Luís Figueiredo.
Não só das condições em Portugal se justifica a falta de medalhas paralímpicas para mostrar. O desacelerar do peso do medalheiro também se deve à aposta, cada vez mais constante, de outros países no desporto paralímpico e Portugal "tem, cada vez mais, de acompanhar a essa progressão”.
Para Paris seguem 27 atletas, a comitiva mais curta desde a Coreia do Sul, em 1988. Mas também de recordes se faz esta missão. Vão ser 10 as modalidades representadas e 10 mulheres a competição, números máximos de uma missão paralímpica portuguesa. De entre uma comitiva com sete estreantes, a presença de dois medalhados "vem reforçar a ideia de que o impossível não existe”.
De 28 de agosto a 8 de setembro, os paralímpicos "irão estar à altura do nome de Portugal". Com ou sem medalhas, com ou em diplomas, "eles, mais do que ninguém, vão querer demonstrar o que fizeram nestes três anos", assegura Luís Figueiredo.
O chefe de missão lança ainda um desafio a quem tiver a oportunidade de acompanhar o percurso em Paris: "Vejam aquilo que atletas com deficiência, algumas profundas, conseguem fazer, ultrapassando coisas que nem imaginam”.