A campanha de vacinação para a Covid-19 começou há cerca de dois meses e, até ao momento, foram registadas no Sistema Nacional de Farmacovigilância um total de 87 suspeitas de reações adversas, sendo que 20 foram classificadas como graves, segundo os dados fornecidos à Renascença pelo Infarmed.
Mais de um milhão de pessoas com mais de 60 anos receberam a vacina Comirnaty - da Pfizer/BioNTech - adaptada às novas variantes, não tendo sido notificados casos de miocardite ou tromboflebites.
A Autoridade Nacional do Medicamento sublinha que as suspeitas de reações adversas não podem ser atribuídas a uma vacina só porque foram notificadas de forma espontânea. Aliás, na grande maioria dos casos em que há dados sobre a história clínica e a medicação que o utente está a tomar, as situações graves podem ser explicadas pelo estado clínico do doente e por outros tratamentos que estava a fazer.
Ainda de acordo com o Infarmed, as notificações feitas até agora estão dentro do esperado.
Já o Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças continua a monitorizar os efeitos secundários, ou adversos, da vacinação e conclui que até agora os mais frequentes são leves - como febre e dor no local da aplicação - e desaparecem em pouco tempo.
Vacina é segura
Para Filipe Froes, pneumologista que fez parte da Comissão Técnica da Vacinação, os números provam a segurança da vacina, considerando que a decisão de aumentar a acessibilidade da vacina foi uma aposta ganha.
“Estamos a vacinar em Portugal 250 mil pessoas por semana contra a Covid-19 e 300 mil contra a gripe. Tirando estas reações mínimas, as vacinas têm sido administradas nas farmácias sem praticamente haver reações. Isto mostra que a decisão de aumentar a acessibilidade das vacinas, nas farmácias, foi uma aposta ganha”, assinala.
Segundo o especialista, nem sempre há uma relação de causalidade entre a vacina e o efeito adverso.
O registo, e a classificação de gravidade podem ser feitos por um profissional de saúde ou pelo próprio utente.
“Muitas vezes o facto de a pessoa notificar não quer dizer que haja uma relação de causalidade, pode haver uma relação circunstancial: a pessoa naquele dia teve uma dor de cabeça, faz a vacina e associa a vacina à dor de cabeça, por exemplo e não tem necessariamente qualquer relação causa efeito, mas é registada como tal”, explica.
Nestas declarações à Renascença, o pneumologista assinala que o registo serve para “mostrar um conjunto muito grande de reações, serve para tentarmos perceber se há alguma relação além daquilo que é expectável”.
“E o que estas vacinas mostram é que as reações ainda são menores do que aquilo que um milhão de pessoas reportará num dia normal”, acrescenta.
Dados que - segundo o especialista - confirmam a segurança da vacina, defendendo que o que deve ser comparado são os efeitos adversos da vacina com os efeitos de ter Covid-19.
“Estes dados atestam e reconfirmam a segurança das vacinas. Se as pessoas estão preocupadas com os efeitos adversos têm de se preocupar com os efeitos adversos, entre aspas, da infeção. Porque o habitual é as pessoas compararem os efeitos adversos da vacina com os efeitos de não ser vacinados quando o correto é compararem alguns efeitos adversos que podem ocorrer com a vacina com as consequências, potencialmente graves, da infeção por Covid-19”, completa.