A Conferência Episcopal de Moçambique (CEM), que junta os bispos católicos do país, considera que o "esquecimento" da população de Cabo Delgado, Norte do país, pelos poderes estatais é uma das causas do conflito armado na região.
"A causa de tanto sofrimento tem raízes profundas no tempo em que a população foi esquecida", refere a CEM, em nota pastoral divulgada hoje, após a primeira sessão ordinária do organismo.
A violência em Cabo Delgado está a infligir "atrocidades" às populações perante a incapacidade do Governo moçambicano de travar a ação dos grupos armados que protagonizam ataques na província, observa a CEM.
"Os nossos corações estão cheios de tristeza por saber de tantas atrocidades que se praticam na vossa província", afirmam os bispos católicos moçambicanos.
A violência em Cabo Delgado está a obrigar crianças a andarem no mato e a procurar refúgio fora de casa, sem comida nem nenhum meio de subsistência e com o coração amargurado, assinalam. Por isso, enaltece a solidariedade de muitas famílias que vivem em zonas seguras, que chegam a acolher nas suas casas mais de 20 pessoas obrigadas a fugir do conflito armado na província de Cabo Delgado.
A CEM avança que está empenhada em mobilizar ajuda dentro e fora do país para a assistência humanitária às vítimas da violência armada na província de Cabo Delgado.
Na nota, os religiosos elogiam o bispo de Pemba, capita de Cabo Delgado, Luiz Fernando Lisboa, pelo seu constante alerta para a difícil situação em que vivem as populações da província, devido ao conflito armado.
Subsídio para militares que combatem grupos armados
O Presidente moçambicano anunciou que o seu executivo vai atribuir um subsídio aos jovens militares que combatem grupos armados na província de Cabo Delgado.
O chefe de Estado não avançou detalhes nem datas sobre a atribuição do subsídio, declarando apenas que, além dos militares que combatem os grupos armados em Cabo Delgado, a medida deverá abranger também profissionais de saúde que estão atualmente na linha da frente do combate à Covid-19 no país, que regista 638 casos e quatro óbitos.
Durante o seu discurso, Filipe Nyusi frisou que o país "nunca se resignará" perante os "ataques terroristas" na região norte, apontando a resistência ao colonialismo como inspiração para a luta contra os desafios atuais.
"Os moçambicanos nunca se resignarão, continuaremos a lutar em defesa dos nossos interesses e continuaremos a lutar contra todo o tipo de divisionismo e de agressão", disse.
Cabo Delgado, província moçambicana onde avança o maior investimento privado de África para exploração de gás natural, está sob ataque desde outubro de 2017 por insurgentes, classificados desde o início do ano pelas autoridades moçambicanas e internacionais como uma ameaça terrorista.
Em dois anos e meio de conflito, estima-se que já tenham morrido, no mínimo, 600 pessoas e que cerca de 211 mil já tenham sido afetadas, sendo obrigadas a refugiar-se em lugares mais seguros, perdendo casa, hortas e outros bens.