Mais de meio milhar de produtores de leite pediram esta quinta-feira a demissão da administração da Lactogal, empresa agroalimentar portuguesa, que acusam estar a prejudicar o setor que este ano já perdeu mais de 160 explorações de leite.
"Já temos contabilizadas 160 explorações que fecharam desde o dia 1 de janeiro até hoje", avançou Jorge Oliveira, presidente da Associação de Produtores de Leite de Portugal (APROLEP), durante a manifestação no Porto, cidade onde está localizada a sede administrativa da Lactogal.
O presidente da APROLEP e as várias centenas de produtores de leite que chegaram hoje ao Porto em 12 autocarros de todo o Norte de Portugal pediram a demissão de Casimiro de Almeida, o presidente da administração da Lactogal, acusando-o de "ganhar 60 mil euros por mês", mas não saber preparar o setor para as "exigências do mercado" e deixar que as explorações encerrem.
"A Lactogal normalmente não fala com ninguém. Com os produtores muito menos. Isso só mostra que aquela administração está obsoleta", acusa Jorge Oliveira, considerando que aquela administração tem de ser "mudada" e tem de "tomar outro rumo".
"Política sem futuro"
“Basta de ditadura na produção do leite”, “Insucesso da Lactogal abre portas ao leite estrangeiro”, “Seus incompetentes” e “Senhor Casimiro, RUA!” foram apenas alguns dos cartazes levantados pelos cerca de 600 manifestantes, que envergavam t-shirts brancas com a frase “Preço Justo à Produção”.
Marisa Costa, vice-presidente da APROLEP, sublinha que a redução do preço do litro de leite tem um grande impacto no dia dos produtores: “O que [a Lactogal] propôs aos produtores foi uma redução de 600 milhões de litros de leite, garantindo-nos que não ia reduzir o preço à produção. Uma semana depois decidiram reduzir um cêntimo à produção, e isto para uma família, para uma exploração, representa muito dinheiro. Se considerarmos uma exploração com 75 mil litros mensais, representa um salário. Estamos a falar de 750 euros. Desde o inicio do ano já fecharam 160 explorações.”
“Estamos a falar de uma redução de 1 cêntimo, mas a verdade é que desde 2015, não só nos têm reduzido a quantidade de leite que podemos produzir, como, no ano passado, em 2017, estivemos sempre abaixo da média europeia”, diz a vice-líder. Já a Lactogal, num comunicado enviado à Renascença, afirma “pagar muito mais do que a média do mercado”.
Desde 2015, findas as quotas leiteiras na União Europeia, tem havido “excesso” de matéria-prima, fator que terá levado a que o mercado espanhol fechasse portas ao leite português, num total de “100 milhões de litros de leite” anuais, refere a PROLEITE, também em comunicado.
“Consideramos que a Lactogal não está a ter uma visão estratégica nem está a consegui escoar o produto. Tem uma política sem futuro. Não inova, não tem estratégia, não tem uma política de internacionalização, não tem uma boa política de marketing. Portanto, no nosso entender, a Lactogal está desorientada, perdida e precisa de um novo rumo.”
Os produtores de leite prometem "não baixar os braços" e admitem novas formas de protesto caso não haja resposta por parte da Lactogal.