Passados alguns dias sobre as trágicas inundações em Lisboa, concelhos vizinhos e outras localidades, o que poderemos desejar é que as autoridades autárquicas e governamentais ajudem as famílias e os comerciantes afetados o mais rapidamente possível. Aqueles, e foram milhares, que enfrentaram duas vagas de inundações num prazo de poucos dias estão compreensivelmente em situação muito difícil. Perder tudo ou quase a duas semanas do Natal conduz ao desalento e à revolta contra a má sorte.
Nos últimos 150 anos houve 115 desastres relacionados com chuvas e cheias no distrito de Lisboa, informou um perito (Prof. José Luís Zêzere). O facto de ao longo de mais de um século pouco ou nada se ter feito para prevenir as cheias diz muito mal sobre a capacidade de todos os que deveriam ter agido em tempo oportuno.
Os políticos são naturalmente os mais responsáveis, pois nem sequer travaram com eficácia a crescente impermeabilização dos solos, não obstante os avisos – desde há décadas! – de pessoas como Gonçalo Ribeiro Teles. Desde 2004 que estão previstos os dois túneis de escoamento, subterrâneos, de que agora se voltou a falar. São obras debaixo de terra, não são vistas e por isso não dão votos...
As alterações climáticas apenas vieram agravar um problema antigo. Por exemplo, ter chovido em três horas uma enorme quantidade de água no passado dia 13 em Lisboa terá alguma marca das alterações climáticas. O mesmo se diga da queda de muito forte precipitação em localidades do Alentejo. Mas o problema, como vimos, é antigo; em 1967 as cheias em Lisboa provocaram cerca de 700 mortos.
O regime vigente nessa data procurou ocultar a dimensão da tragédia, censurando notícias sobre as vítimas. Felizmente agora a informação é livre; mais uma razão para os políticos democráticos se mostrarem mais capazes de prevenir situações deste tipo. Está na hora de a democracia portuguesa se mostrar à altura deste desafio. Já se perdeu demasiado tempo.