O Presidente da República ouviu este sábado queixas de populares e um vereador em relação às operações de combate ao fogo em Monchique, no Algarve, e lembrou que a prioridade era proteger as populações, apelando à compreensão.
À saída de um 'briefing' no posto de comando da Proteção Civil, instalado no centro da vila, Marcelo Rebelo de Sousa foi interpelado por várias pessoas, entre as quais o vereador da Câmara de Monchique com o pelouro das obras públicas e particulares.
José Chaparro disse ao chefe de Estado que as pessoas eram retiradas "a mal" das suas casas pela GNR e apontou que "máquinas de rasto, militares e civis" estiveram três dias sem entrarem ao serviço por "falta de indicações" do comando da Proteção Civil.
"Houve descoordenação total. As pessoas que estavam à frente das operações nos 'briefings' não eram da terra e não conhecem o terreno. Andava tudo completamente às cegas", afirmou.
Um empresário, cujas propriedades e casas "arderam", queixou-se que na estrada do Alferce não ter visto qualquer carro dos bombeiros a ajudar ao combate e também deixou críticas à atuação dos elementos da GNR durante a evacuação das localidades.
"No geral estiveram bem, mas devia ter havido um pouco mais de bom senso na atuação junto dos populares", afirmou.
Sobre esta matéria, Marcelo Rebelo de Sousa começou por dizer que o papel dos operacionais e da população foi "fundamental" para não haver vítimas mortais, sublinhando que a opinião pública está hoje "muito mais exigente em termos de segurança".
"Têm de compreender que, sem querer antecipar nenhum juízo, houve uma definição de uma prioridade, que foi, na medida do possível, proteger populações", afirmou, sublinhando que essa definição tem consequência, levando a "certas intervenções".
O Presidente alertou depois para o eventual cenário em que um operacional deixa de intervir atempadamente, tendo como consequência a morte de alguém: "'O senhor tinha a obrigação de intervir e evitar aquele morto ou aqueles mortos', é o que se dirá".
"Imaginam o que é o dilema de cada pessoa que intervém ponderar o grau e a forma de intervenção. Visto depois, com frieza, as pessoas dizem, atendendo às condições e situações, 'o tipo de intervenção foi drástico demais, incisivo demais, coercivo demais'?", acrescentou, defendendo que estas questões sejam analisadas posteriormente.
O chefe de Estado sublinhou ainda que "o tempo disponível para tirar as lições" dos incêndios do ano passado e para "montar mecanismos preventivos" era "muito limitado".
Um popular ligado à área da cortiça questionou Marcelo sobre se considera que a operação de combate ao incêndio tinha sido um "sucesso", mas o Presidente da República acabou por devolver a pergunta: "Como alguém que viveu por dentro, qual é a sua opinião?".
"A minha opinião é que não. Isto ardeu tudo, nós perdemos o concelho. Considero que foi uma derrota de toda a gente", respondeu.
Marcelo Rebelo de Sousa terminou pouco depois os contactos com a população, agradecendo as "intervenções", que classificou como "muito importantes", seguindo depois para uma visita às zonas atingidas.