O jovem investigador Luís Rita foi esta quinta-feira considerado um dos 40 maiores jovens talentos do mundo no Top Talents Under 25 − um prémio que está aberto a jovens, com idade inferior a 25 anos, de todas as nacionalidades, e que visa premiar não só a carreira de investigação dos concorrentes, mas também a forma como divulgam o conhecimento.
Na categoria Digital, o português ganhou protagonismo “traduzindo átomos em bits”, com a concretização de dois projetos inovadores.
Luís está, desde outubro de 2019, no Imperial College of London a fazer um mestrado em Biomédica. E foi com os dois projetos que desenvolveu em Inglaterra que concorreu à 2.ª edição do Top Talents Under 25.
Depois de uma seleção a nível mundial, que a organização descreve como “minuciosa”, chegou-se a um grupo que junta algumas das maiores jovens promessas do mundo em diversas áreas de investigação. Os vencedores destacaram-se “por pensar fora da caixa”, e porque “ousaram desafiar o 'status quo' e atreveram-se a melhorar não só as suas vidas como as vidas dos que os rodeiam”.
Ora, era exatamente esse o objetivo de Luís Rita quando começou a desenvolver o primeiro projeto de investigação, que ocupou os primeiros cinco meses do mestrado em Londres.
O “Machine Learning for Building a Food Recommendation System” não foi mais do que dar corpo ao conceito de que há um número de doenças oncológicas “que podem ser prevenidas apenas com mudanças nos hábitos alimentares”.
“Não vou dizer que é fácil, mas é um dos fatores com maior potencial nas nossas rotinas para prevenir doenças oncológicas. A par do exercício físico, é o fator com mais influência”, resume.
Para isso, Luís Rita desenvolveu uma aplicação que tem como sustentáculo duas grandes bases de dados de receitas de culinária. Passo seguinte: a app permite que cada um de nós possa inserir uma fotografia do prato que está prestes a comer ou que está a pensar cozinhar.
“A aplicação deteta os ingredientes e recomenda ingredientes alternativos com base nos que foram identificados na foto, e reconhece o tipo de cozinha a que pertence. Após ser feita a análise, avalia se o prato deve ser ou não utilizado para quem queira prevenir ou tratar determinada doença oncológica”, explica.
A boa dieta mediterrânica
Luís explica à Renascença que descobriu, durante estes meses de investigação, o “número de moléculas anti-cancro que estão em cada um dos ingredientes que consumimos no dia-a-dia”.
E há boas notícias para os portuguesas caso cumpram a dieta mais vulgar no nosso país. “O que me surpreendeu é que tendo eu desenvolvido um algoritmo que determina qual o tipo de cozinha a que uma determinada lista de ingredientes numa receita corresponde, cheguei à conclusão que a cozinha mediterrânica é a que tem o número mais elevado de moléculas anti-cancro.”
O investigador, que começou os estudos no Instituto Superior Técnico em Lisboa, explica que este projeto ainda tem algumas limitações, mas que os próximos anos da sua vida profissional serão dedicados a aprimorar a ferramenta.
Para o mercado
Primeiro, Luís quer conseguir dar conselhos alimentares estreitando as opções, ou seja, as escolhas serem direcionadas para cada um dos tipos de cancro existentes.
Em segundo lugar, surge a ideia que irá desenvolver no doutoramento, a de “apresentar receitas de uma forma matemática, para facilitar a análise do ponto de vista dos benefícios e malefícios que cada uma possa ter”, explica, alertando que nesta primeira investigação apenas analisou os benefícios moleculares dos alimentos e não possíveis efeitos negativos inerentes ao que comemos.
O objetivo, mais tarde, é fazer chegar aos restaurantes e à indústria o resultado das suas investigações.
O jovem português diz que a concretização maior do trabalho que fez, até agora, é um “livro de receitas”, que revela “como os diversos ingredientes interagem entre si para contribuir para um bom sabor" e que permite "perceber o número de moléculas anti-cancro" que cada ingrediente possui.
A ideia resume-se a dar “dar o poder às pessoas de, com base no que gostam, e com base na perspetiva do cancro, poderem decidir ‘quero consumir isto hoje, amanhã aquilo...’”
No âmbito da atribuição do prémio internacional, houve ainda outro projeto que o investigador português esteve a desenvolver. Aí, o jovem quis detetar objetos para extrair os fatores de risco para os ciclistas através de imagens do Google Street View de Londres.
O propósito era fazer sugestões para melhorar a segurança dos ciclistas nas rodovias, e detetar os pontos negros para este grupo na cidade inglesa.
“Parece-me ser um tema muito atual, porque as ciclovias e as bicicletas têm ganho muita importância em Londres”, afirma.
À Renascença, Luís Rita adianta que tem já ideia do que quer fazer nos próximos três anos. “Dar às pessoas o poder para combater o cancro antes e depois de ele aparecer.”