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O Papa Francisco decretou este sábado a redução ao estado laical do cardeal Theodore McCarrick. O arcebispo emérito de Washington viu-se no centro de uma polémica de abusos sexuais que rebentou no verão de 2018 e que continua a fazer-se sentir nos Estados Unidos, e não só, tendo abalado a credibilidade de todo o episcopado norte-americano.
A redução ao estado laical é a pena canónica mais grave que a Igreja pode aplicar a um sacerdote, antes da própria excomunhão. Embora a ordenação sacerdotal – segundo o ensinamento da Igreja – seja irreversível, com a redução ao estado laical um padre fica proibido de exercer o sacerdócio.
No verão de 2018, Theodore McCarrick – que enquanto cardeal e arcebispo de Washington era um dos homens mais influentes da Igreja norte-americana – foi acusado de ter abusado um menor.
Os bispos americanos disseram que a acusação tinha sido considerada credível e que o arcebispo emérito, já octogenário, iria suspender quaisquer atividades públicas enquanto decorresse uma investigação.
McCarrick veio a público dizer que não tinha qualquer recordação de ter abusado de alguém, ao mesmo tempo que pedia desculpa pelo mal eventualmente causado a terceiros.
A partir daí o caso foi-se desenvolvendo rapidamente. De um caso de abuso de menores passou para dois e depois começou-se a saber que, afinal, o arcebispo tinha recrutado e mantido, durante décadas, uma rede de jovens padres e seminaristas com quem mantinha relações homossexuais.
McCarrick pediu para sair do Colégio dos Cardeais, tendo o Papa aceitado, fazendo dele um ex-cardeal. Remeteu-se então, por ordem de Francisco, a uma vida de “penitência e oração”, longe dos olhos do mundo. Não se tem pronunciado publicamente desde essa altura.
O caso é agravada pelo facto de ter sido McCarrick a dar a cara pela resposta dos bispos americanos ao escândalo dos abusos sexuais praticados por membros da Igreja logo nos primeiros anos da década de 2000.
A “Carta de Dalas”, redigida pelos bispos e que contém normas para lidar com casos e suspeitas de abusos sexuais por membros do clero, não inclui qualquer indicação para o caso em que o abusador é um bispo.
Na sequência deste e outros casos internacionais de abusos, o Papa convocou um encontro para os presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo, a realizar em Roma entre os dias 21 e 24 de fevereiro. Portugal será representado pelo patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.