Arlindo Lourenço, que tem quatro supermercados na ilha, diz à Renascença que tem falta de metade das referências que comercializa.
"É verdade que não falta leite e farinha ainda. Mas açúcar já falta e não há pão. Uma empresa não pode sobreviver com uma redução de 50% das referências que comercializa".
Os produtos vão esgotando aos poucos, do açúcar ao gás, passando pela farinha. O empresário lembra que o último abastecimento regular aconteceu há exatamente um mês.
"Todos os dias esgota mais uma coisa. O açúcar esgotou há um dia ou dois, o leite irá esgotar nos próximos dois dias. Assim sucessivamente. Isto já se vai arrastando, há um mês que o navio de escala não vem às Flores".
Arlindo Lourenço diz que o que vai recebendo são "migalhas" e que ainda aguarda mercadoria que encomendou em janeiro. O empresário espera que o navio Margareth - que o Governo Regional fretou para abastecer a ilha a partir deste mês - faça escala nas Flores na próxima quinta-feira, "se o tempo o permitir".
"Se o navio não chegar nos próximos dias com todos os contentores - já se vão acumular três viagens - eu não sei", desabafa.
As perdas são muito avultadas. Se a situação se mantiver há empresários que vão ter de fechar portas. "Já tenho colegas a ligar-me, a dizer que temos de tomar uma atitude extrema que é fechar as empresas. Com os prejuízos que estamos a ter, qualquer dia não é viável ter a porta aberta".
O empresário fala em caos no abastecimento. A Força Aérea Portuguesa fez até agora dois voos para levar bens de primeira necessidade mas, segundo Arlindo Loureço, está longe de chegar.
"Veio uma vez, trouxe leite e açúcar, julgo. Para nós não trouxe nada. Hoje a Força Aérea trazia só rações para animais, porque ainda não tinham conseguido trazer rações às Flores".
"A Força Aérea não é solução, traz 5 mil quilos, a carga tem de ser descontentorizada. A mercadoria está toda contentorizada na praia da Vitória, e alguns em viagem do continente para os Açores. A Força Aérea é um pequeno remedeio para trazer coisas muito prioritárias mas não é solução de forma nenhuma".
Os empresários das Flores pedem apoios de exceção, porque a construção do porto das Lajes vai demorar muito tempo.
Arlindo Lourenço diz que é toda a economia da ilha que está em causa.
"Isto já se prolonga desde 2019, as empresas estão a perder muito dinheiro ao longo desse tempo. Nós não conseguimos sobreviver, está a pôr em risco a economia das Flores de forma geral".
"O Governo já vai atrasado, devia ter dado prioridade e ter acelerado as obras no porto das Lajes das Flores, principalmente a proteção do molhe", remata.