Nesta terça-feira, a Escola Básica e Secundária de Velas recebeu apenas 11 dos 485 habituais alunos. E está a preparar-se para acolher os serviços de saúde do concelho. Isto, no dia em que cerca de 700 sismos foram registados na ilha de São Jorge, na primeira noite em que nenhum deles foi sentido pela população desde o início da crise sismo-vulcânica.
“O almoço hoje é pudim de peixe e não me faça perguntas difíceis, porque eu depois não sei responder”, diz Carla Teixeira, uma das funcionárias da cantina da Escola Básica e Secundária de Velas, para quem, por enquanto, tudo decorre tranquilamente. Mas admite que é difícil manter essa calma, porque está sempre “alerta, à espera de alguma coisa. Estamos sempre na incerteza”, conta à Renascença.
É essa incerteza que a leva a ir passar a noite à Ribeira Seca. “Passo lá todas as noites, e venho todos os dias trabalhar, cá para baixo para as Velas”.
Vitor Bernardes é o presidente do conselho executivo da Básica e Secundária de Velas, uma escola onde a atividade letiva foi suspensa devido à crise sismo-vulcânica, mas que acolhe as crianças que ainda estão por Velas. Nesta terça-feira, só apareceram pouco mais de 2% dos alunos.
“Num universo de 485 alunos, neste momento estamos com onze. Não sabemos ainda quando retomaremos a atividade letiva. Eu penso, mas só a tutela o pode dizer, que à partida, como íamos para a interrupção letiva da Páscoa, que só devemos retomar a normal atividade a 19 de abril”, explica Vítor Bernardes, adiantando ainda que a maioria dos alunos estão na Calheta ou no Topo, bem como noutras localidades de São Jorge e até em ilhas vizinhas.
E estes “foram solicitar às escolas que os acolhessem. Saber se podiam assistir às aulas junto com os colegas dos anos a que pertencem. E isso está a ser feito com alguns”, indica.
O problema, admite Vítor Bernardes, é a interrupção letiva dos alunos do 11.º e do 12.º ano, “que têm exames nacionais e é o futuro deles, de entrada na Universidade” que está em causa.
Escola acolhe serviços do centro de saúde
Entretanto, a escola está a libertar espaço que será ocupado nos próximos dias pelo Centro de Saúde de Velas, que ocupa um edifício antigo, que se encontra em obras de recuperação.
“Pensamos que a partir de amanhã eles já poderão vir com as suas coisas e instalar-se, para ver se começam a trabalhar aqui o mais rápido possível”, confessa Vítor Bernardes.
Do lado de lá, no centro de saúde, está a ser preparado “todo o equipamento que suporta o serviço de urgência e todo o equipamento para consultas programadas”, revela Francisco Fonseca, presidente da Unidade de Saúde da Ilha de São Jorge.
Na semana passada, chegou um reforço de meios de São Miguel: quatro médicos, cinco enfermeiros e um psicólogo.
“Médicos que têm experiência e formação em catástrofe, para que se houver a necessidade, ter uma equipa preparada para trabalhar no terreno”.
Primeira noite sem sismos sentidos
Desde a meia-noite, registaram-se cerca de 700 sismos em São Jorge e, pela primeira vez desde o início desta crise sismo-vulcânica, nenhum foi sentido pela população.
No ‘briefing’ diário, Eduardo Faria, presidente Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores, referiu que, nos últimos dias, tem sido registada uma “constância no que diz respeito ao número e à magnitude dos sismos”, mas salientou que a população da ilha deve manter-se alerta.
“Apesar de a magnitude dos sismos ter reduzido ligeiramente e estar no limiar entre os sentidos e não sentidos, as populações devem manter-se atentas, não devem relaxar e devem manter as medidas de autoproteção.
Eduardo Faria assegurou ainda que o CIVISA (Centro de Informação e Vigilância Sismo-Vulcânica dos Açores) vai analisar a informação tornada pública nesta terça-feira pelo Instituto Vulcanológico das Ilhas Canárias, segundo o qual será de cerca de 20 milhões de metros cúbicos o volume estimado de uma possível intrusão de magma na ilha de São Jorge. Uma quantidade em tudo idêntica à registada pela deformação do solo antes da erupção na ilha de La Palma, no ano passado.