Passou 500 dias numa gruta e não sabia da guerra na Ucrânia. "Tive de parar de contar os dias"
14-04-2023 - 17:54
 • Diogo Camilo

A espanhola Beatriz Flamini fez parte de uma experiência numa gruta a 70 metros de profundidade, onde ocupou o tempo a desenhar, tricotar gorros de lã e ler livros. Quando saiu, só queria tomar um banho.

Uma alpinista espanhola passou 500 dias numa gruta a 70 metros de profundidade, sem luz natural ou qualquer contacto com o exterior, como parte de uma experiência que terminou esta sexta-feira.

Quando Beatriz Flamini, de 50 anos, entrou na gruta nos arredores de Granada, a Rússia não tinha invadido a Ucrânia e grande parte do mundo estava ainda a braços com a pandemia de Covid-19.

Ainda estou em 21 de novembro de 2021. Não sei nada do que se passou no mundo”, disse, após sair da experiência na qual foi acompanhada por uma equipa da Federação Andaluza de Espeleologia, a partir do exterior.

Descrevendo o tempo que passou como “excelente”, Beatriz Flamini diz que nunca pensei em acionar o botão de pânico que tinha à disposição, caso surgisse alguma emergência.

Durante o quase ano e meio em que esteve numa gruta, a alpinista ocupou o seu tempo a desenhar e tricotar gorros de lã, leu 60 livros e bebeu mais de mil litros de água, enquanto foi permanentemente acompanhada por psicólogos, investigadores e espeleologistas, os especialistas no estudo de grutas - sem que nenhum destes tivesse contacto com ela.

Quando saiu da gruta, não sabia o que responder a jornalistas e só pensava em.. tomar um banho. “Estive em silêncio durante ano e meio, sem falar com ninguém a não ser eu própria. Se me permitirem, vou tomar um banho, não toco em água há um ano e meio”, disse.

Após o choque inicial, Beatriz revelou que perdeu a noção do tempo após os primeiros dois meses.

Recorde do Guiness? Primeiro é preciso confirmar se existe

“Houve um momento em que tive de parar de contar os dias”, indicando que pensou que tinha estado na gruta “160 a 170 dias”.

Um dos momentos mais difíceis, conta, foi uma invasão de moscas dentro da gruta, além de aquilo que descreveu como “alucinações auditivas”: Estás em silêncio e o teu cérebro começa a inventar coisas”.

Especialistas aproveitaram o tempo que passou isolada na gruta para estudar o impacto da isolação social e a desorientação temporária extrema na perceção do tempo das pessoas.

Segundo a própria, foi batido o recorde mundial de maior tempo passado numa gruta, mas o Guinness World Records ainda não confirmou se existe um recorde para o maior tempo voluntário passado numa gruta.

Atualmente, existe o recorde de “maior tempo de sobrevivência preso no subsolo” que pertence a 33 mineiros chilenos e bolivianos que passaram 69 dias a 688 metros de profundidade após o colapso de uma mina no Chile, em 2010.