97% do lítio usado na União Europeia tem origem na China, assim como 93% do magnésio comunitário ou 80% dos painéis solares que os países da união instalaram ao longo do ano passado. São apenas três exemplos da dependência europeia da china para se abastecer de matérias-primas e produtos essenciais para o desenvolvimento de indústrias estratégicas e num momento de transição na economia.
Durante a pandemia a Comissão Europeia decidiu quantificar essa dependência identificando 137 categorias de produtos, todos eles associados a setores vitais como a saúde, a defesa ou o espectro digital e cujas importações não são substituíveis com as capacidades industriais atuais da União Europeia. Chegou-se também a uma conclusão reveladora: mais de metade dessas importações procede da China, concretamente 52%.
Essa dependência é especialmente acentuada em tudo o que diz respeito às chamadas ‘terras raras’, elementos químicos essenciais para a fabricação de produtos tecnológicos e armamento, mas também de baterias elétricas e outros componentes básicos para a transição ecológica, semicondutores e chips, ou de princípios ativos para a fabricação de muitos medicamentos.
Na prática, a União Europeia está largamente dependente dos Estados Unidos para a transição digital e da China para a transição climática. Os problemas decorrentes da sujeição externa tornaram-se evidentes durante a pandemia e, mais recentemente, depois da invasão russa da Ucrânia o que obrigou a Europa a diversificar à pressa o seu abastecimento energético.
Com a Estratégia Europeia de Segurança Económica, revelada há dias, a União Europeia pretende, entre outras medidas impedir que as empresas europeias fabriquem tecnologia sensível como os supercomputadores, inteligência artificial e microchips avançados em países como a China.
Ainda que não se refira especificamente à China, o documento tem na mira a China e a Rússia. Apesar do Japão ter já avançado com uma medida semelhante, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sublinhou que “a Europa se torna o primeiro grande bloco a definir uma estratégia de segurança económica”.
A análise é de Nuno Botelho, Miguel Leichsenring-Franco e Manuel Carvalho da Silva a olharem também para os efeitos da recessão na Alemanha e para a reunião do BCE em Sintra com a promessa de subida das taxas de juro para travar a escalada de preços.