Governo de salvação? ​Marcelo acusa Rui Rio de pôr "o carro à frente dos bois"
30-03-2020 - 18:06
 • Dina Soares

O Presidente da República não quer ouvir falar de cenários políticos futuros. Marcelo defende que é hora de todos se unirem, portugueses e políticos, para enfrentarmos esta crise. Crises económicas “já tivemos muitas”, afirmou, mas uma pandemia nunca.

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Marcelo Rebelo de Sousa não quer ouvir falar de ajustes de contas políticos ou de soluções governativas para o futuro. Em resposta às declarações de Rui Rio sobre a necessidade de um governo de salvação nacional, o Presidente da República afirmou que Rio “está a pôr o carro à frente dos bois.”

Este domingo, em entrevista à RTP, Rui Rio afirmou que, uma vez ultrapassada a crise sanitária e quando a prioridade passar a ser a economia, está convencido de que “a sociedade portuguesa vai ter de debater efetivamente a composição de um Governo de salvação nacional. O Governo que vier - pode ser o mesmo, como é lógico - vai ser sempre de salvação nacional.”

Marcelo considera, por seu turno que o que os portugueses esperam agora dos políticos não são ajustes de contas nem cenários políticos futuros. “Falar agora de um governo de salvação nacional é como falar das presidenciais. É congeminar sobre um futuro longínquo. Temos o governo que temos e o Parlamento que temos. Estar a pensar em quem vai governar no futuro não faz sentido.”

Marcelo mais otimista com o comércio do que com o turismo

O chefe de Estado falava aos jornalistas no final das audiências que manteve com os dirigentes das confederações do Comércio e do Turismo. Relativamente ao comércio, Marcelo agradeceu a todos os que mantêm as suas lojas abertas e mostrou-se otimista. “Os pequenos e médios comerciantes que agora estão fechados, já só pensam em reabrir.” Já em relação ao Turismo, admitiu que o futuro é mais sombrio, porque está quase totalmente parado e porque depende de toda a conjuntura mundial.

Da parte dos responsáveis pelas duas confederações, o Presidente revelou um pedido comum e muito urgente para que possam começar rapidamente a ser aplicadas as medidas aprovadas pelo governo relativamente ao “lay-off” simplificado. “O que eles me disseram é que só assim é que nos próximos meses de abril, maio e provavelmente junho, será possível aguentar os trabalhadores sem despedimentos.”

O segundo semestre deste ano é a data apontada por Marcelo para o início da recuperação económica do país, apesar da já mais que certa “queda monumental do Produto Interno Bruto e da necessidade de reconstrução económica e social.”

Marcelo e Mattarella pedem soluções à Europa

O Presidente falou esta segunda-feira ao telefone com o seu homólogo italiano e, depois de trocarem informações sobre a forma como a pandemia está a evoluir nos respetivos países, ambos concordaram que a solidariedade e a unidade europeia é fundamental para a recuperação económica e que não se pode esperar dois ou três meses para ter respostas europeias no terreno.

Mesmo assim, o chefe de Estado considera que a crise pandémica que agora enfrentamos constitui um desafio maior do que a crise económica. “Das outras já temos tido muitas, mas uma crise como esta é a primeira vez”.

As audiências desta segunda-feira fazem parte do processo de auscultação que o Presidente está a levar aos parceiros sociais e outras entidades relativamente ao prolongamento do estado de emergência.

Amanhã, dia 31 de março, Marcelo Rebelo de Sousa vai reunir-se, durante a manhã, no Infarmed, com especialistas. No dia seguinte será a vez do Governo se pronunciar sobre o prolongamento ou não desta situação de exceção, bem como sobre as medidas que devem estar previstas. Durante a tarde, o Presidente da República enviará o seu diploma para a Assembleia da República, a fim de ser debatido e votado.