Foi diretor-geral da TVI e presidente do Turismo de Portugal, tem 58 anos e é gestor. É também, a partir deste domingo, o homem que vai levar um partido fundado há menos de dois anos, a Iniciativa Liberal, para o Parlamento.
João Cotrim Figueiredo assumiu a candidatura à Assembleia da República, como cabeça de lista por Lisboa, num post publicado no Facebook a 14 de julho. “Eu sei, é uma surpresa até para mim. Mas aceitei porque já não consigo ficar sentado enquanto o país marca passo e não dá à geração dos meus filhos metade das oportunidades que a minha geração teve”, afirmou então.
Aluno na Escola Alemã de Lisboa, seguiria para a London School of Economics, onde se formou em Economia. Rumou a Inglaterra em 1978, onde teve vários trabalhos, contou numa entrevista à “Sábado”.
A família detinha há várias gerações os cabides Manequim, uma empresa fundada pelo bisavô. Disse ter sido a vender porta a porta os tais cabides que descobriu a vertigem dos negócios. "A venda é das coisas mais nobres que existem; significa pormo-nos nos pés e na cabeça do outro para lhe passar algo relevante. Não é enganá-lo, é tornar a sua vida melhor", descreveu à mesma revista.
No mundo dos negócios, orbitou entre várias empresas ao longo deste século: Compal, Nutricafés, Privado Holding, depois a TVI, entre 2010 e 2011. Na área do turismo, foi presidente do conselho diretivo do Turismo de Portugal entre 2013 e 2016 e, em 2015, foi eleito vice-presidente da European Travel Commission, que reúne organismos de turismo de 33 países europeus que se querem promover fora do continente.
Um dos homens da WebSummit
João Cotrim Figueiredo presidiu ao Turismo de Portugal durante a governação de Passos Coelho, entre 2011 e 2015, numa coligação entre PSD e CDS. Adolfo Mesquita Nunes, que foi coordenador do programa eleitoral do CDS-PP e que até março ocupou a vice-presidência do partido, era secretário de Estado com a tutela do setor.
Durante a gestão do novo deputado da Iniciativa Liberal, o turismo em Portugal disparou e começou a bater recordes – entretanto prolongados – com uma estratégia muito elogiada e que se concentrou no online. No entanto, o presidente do ACP, Carlos Barbosa, numa entrevista também à “Sábado”, acusou Cotrim Figueiredo de não percebe “nada” do setor.
“Só lá está por ser amigo do Pires de Lima [António, ex-ministro da Economia]. Limitou-se a recolher os louros do trabalho de Bernardo Trindade [ex-secretário de Estado do Turismo] e Frederico Costa [ex -presidente do Turismo de Portugal].
O agora deputado esteve envolvido nas negociações que trouxeram a Web Summit a Lisboa, em 2015. “Foi um trabalho difícil, mas é um marco. Mais do que as dormidas que pode trazer e a movimentação turística, a Web Summit posiciona Portugal enquanto centro de inovação, de partilha de experiências e de criatividade“, disse então ao Dinheiro Vivo.
As ideias liberais
O liberalismo económico e social e a redução do peso do Estado e dos impostos são, tal como para o presidente Carlos Guimarães Pinto, os grandes objetivos que João Cotrim de Figueiredo se propõe defender.
“Encontrei na Iniciativa Liberal muitas pessoas boas que, como eu, acham que Portugal e os Portugueses merecem e são capazes de mais. Só precisam que os deixem ser livres e autónomos; que o Estado não lhes tolha os passos; que os poderes políticos e todos os outros não os impeçam de procurar o melhor para si e para as suas famílias”, afirmou, no mesmo post em que anunciou a candidatura.
Numa entrevista recente ao “Notícias ao Minuto”, assume como objetivos a privatização da Caixa Geral de Depósitos, RTP e TAP e a implementação de uma taxa única de IRS de 15%. Do outro lado da barricada, desvaloriza as preocupações ambientais. “Se eu passar a consumir um décimo da carne, há alguém que vai ficar desempregado”, refere, acrescentando depois que “o ambiente em Portugal está discutido de uma forma completamente alarmista e confusa”.
“Se não estiverem de acordo, talvez um dia vos convença mas, como qualquer bom liberal, respeito as opiniões diferentes”, afirma no Facebook. No Parlamento, face ao atual xadrez partidário, o gestor – benfiquista e que elege como filme favorito “A Vida de Brian”, dos Monty Python – terá certamente dificuldades em encontrar parceiros para as suas ideias.