O Livre juntou hoje cerca de uma centena de pessoas no auditório do Liceu Camões, em Lisboa, para o primeiro e único comício da campanha que intitulou como "Festa de encerramento", apesar de ainda ter agenda para o último dia de corrida eleitoral. .
"Muito bom estar aqui para trazer o Livre de volta à Assembleia da República e para ficar", afirmou Rui Tavares quando subiu ao palco naquela que foi a intervenção mais aguardada e mais aplaudida da noite.
Tavares defendeu que o Livre "tem a aposta de reconquistar a palavra "liberdade" para esquerda" e não deixar que esta seja "deturpada e que seja transformada em algo que a liberdade não é".
"Que ela não seja tratada apenas como a liberdade da interferência do Estado: o Estado interfere, não sou livre, o Estado não interfere, sou livre. Sou livre de quê, de oprimir o outro? Nós dizemos que a liberdade é uma liberdade em que muitas vezes o fraco tem que ser protegido do forte. Nós dizemos que a liberdade precisa do princípio da responsabilidade", advertiu. .
Mas segundo Rui Tavares, também "muitos à esquerda deixaram que se fosse ganhando este terreno retórico, de achar que a liberdade só pertence a um campo da política, porque a esquerda só defenderia a igualdade".
"Por isso, além da liberdade estar a passar por aqui, a esquerda passa por aqui: a esquerda combativa, uma esquerda que ousa pensar o futuro, uma esquerda que não baixa os braços é a esquerda que o Livre representa e que vai levar à Assembleia da República", vincou Tavares, numa alusão à canção de Sérgio Godinho, "Maré Alta", utilizada várias vezes ao longo do seu discurso.
Numa intervenção de cerca de meia hora, a principal figura do partido e cabeça de lista pelo círculo de Lisboa apontou para um caminho de "trifurcação" após o dia 30.
"Há três caminhos à nossa frente: há quem queira continuar na mesma como a lesma, há quem queira ir para muito pior e há quem queira dar uma boa notícia ao país na próxima segunda-feira", defendeu. .
Segundo Tavares, "ir para muito pior certamente é acrescentar a todas estas crises uma crise de regime, uma crise do Estado de direito em Portugal" e a "maneira de impedir isso de acontecer é com uma maioria de esquerda e todos os votos na esquerda contam".
"Mas também ficar na mesma como a lesma, como alguns nos propõem -- fomos para eleições para mais uns votos de um lado, ou mais uns votos do outro, a seguir continuamos na mesma, queremos conversar, já não queremos conversar, não queremos conversar convosco, agora já conversamos outra vez, pedimos uma reunião, mas só com aqueles. Não, por favor, na mesma como a lesma, não", sublinhou. .
Tavares insistiu que o país pode ser "uma vanguarda na economia do conhecimento e da descarbonização, mas precisa que essa visão esteja em cima da mesa".
No seu discurso o dirigente sublinhou a importância do Estado social -- que classificou como "uma das maiores conquistas de sempre da humanidade e da democracia" -- mas advertiu que "é preciso adaptar o Estado social à realidade do século XXI", como por exemplo, através da proposta do partido para atribuir subsídio de desemprego não apenas a quem é despedido mas também a quem se despede para melhorar qualificações. .
"É por isso que quando alguns dizem que querem prescindir dos impostos que devemos pagar para que este Estado social funcione e que numa certa fezada acham que isso induz crescimento económico, e quando basicamente dizem aos que têm muito rendimentos "vocês vão ficar com uma grande parte disto, podem pagar serviços no privado de tudo o que quiserem" e àqueles que têm menos rendimentos "ou tens uns trocos ou como já não pagavas agora vais pagar muito mais por serviços públicos menos sustentáveis , que te vão servir pior", nós dizemos, por aí não", vincou o dirigente. .
Rui Tavares confessou ainda achar "uma certa graça" quando se diz que a Iniciativa Liberal é "o Bloco de Esquerda da direita", considerando que essa "é uma grande injustiça" feita aos bloquistas. .
"São mais o PCP, mas também não é o PCP da CDU, eles são mais um "partido de classe dos patrões"", ironizou, com a plateia a soltar alguns risos. .
Já a número dois por Lisboa, Isabel Mendes Lopes, momentos antes, começou a sua intervenção a cantar Sérgio Godinho também, e defendeu que "num país sem Estado não há liberdade de escolha para quem menos tem". .
A dirigente apelou a uma aposta em áreas como a educação, o acesso à habitação ou ainda o combate ao racismo estrutural e à discriminação, bandeiras do partido.