Um projeto experimental na zona de Póvoa de Varzim e Vila do Conde já encaminhou mais de 8.500 utentes para consultas nos centros de saúde.
A iniciativa "Ligue SNS24, Salve Vidas" arrancou em maio, para reduzir a afluência às urgências hospitalares, e o balanço feito pela diretora do Agrupamento de Centros de Saúde (Aces) Póvoa de Varzim/Vila do Conde é muito positivo.
No âmbito deste projeto, o acesso aos cuidados de saúde é feito pela linha de saúde. É ao telefone que os utentes são triados e encaminhados para o tipo de cuidados que necessitam, e não desligam até ter consulta marcada no médico de família, se for caso disso.
“Desde 24 de maio até 18 de setembro, o SNS24 fez 23.968 triagens: 26% dos utentes foram encaminhados para o serviço de urgência. Dos restantes, 12.151 foram considerados elegíveis para este projeto: 8.555 tiveram consultas marcada para o médico de família para próprio dia ou para o dia seguinte, em função da necessidade” diz à Renascença a diretora-executiva do Aces Póvoa de Varzim/Vila do Conde.
“É uma taxa de sucesso de 70%”, sublinha Judite Neves, que adianta que os restantes foram posteriormente contactados para agendar consulta.
Durante a noite, por exemplo, não há serviços administrativos, mas o utente fica referenciado e no dia seguinte é contactado pela Unidade de Saúde Familiar (USF).
Para a responsável, há claras vantagens para doentes e profissionais: “Os utentes podem ficar em casa e chegar só à hora marcada e os profissionais veem a sua agenda muito mais bem organizada com as consultas previamente agendadas e distribuídas ao longo do dia”.
“Na prática não temos mais consultas diárias abertas do que tínhamos antes. Tivemos, foi, que alocar essas vagas a sistemas diferentes para maior conforto dos doentes”, explica Judite Neves.
O resultado, garante, é que as marcações presenciais foram caindo e não há tanta afluência em simultâneo.
Outro dado positivo deste sistema, diz Judite Neves, é que as pessoas não faltam. “Dos utentes que foram agendados pela linha Saúde 24, menos de 10% faltaram à consulta” e esse, admite, era um receio que existia à partida, “que as pessoas agendassem a partir de casa e depois, por algum motivo, não comparecessem”. Não aconteceu.
No âmbito deste projeto, quase três mil pessoas – o equivalente a 11,8% - ficaram em autocuidados e, segundo a responsável, “não recorreram aos serviços de saúde num espaço de 72 horas, o que é bastante significativo”.
Médicos de família referenciaram mais de 150 doentes para consultas hospitalares
A nível hospitalar foram criadas consultas abertas para várias especialidades, para os doentes crónicos complexos, que precisam de observação a curto prazo, nomeadamente, em psiquiatria, ortopedia, medicina interna, imunohemoterapia, ginecologia e pé diabético.
Também aqui a diretora-executiva do Aces Póvoa de Varzim/Vila do Conde fala em resultados positivos. “Neste período, 152 doentes foram referenciados para estas especialidades pelo médico de família, ou seja, tiveram consulta agendada num espaço até 72 horas”. A alternativa, sublinha Judite Neves, “era encaminhá-los para o serviço de urgência”.
A ideia da Direção Executiva do SNS é estender este projeto progressivamente a todo o país. Mas no caso do Aces Póvoa de Varzim/Vila do Conde há uma condição que está longe de acontecer no resto do território, é que “toda a gente tem médico de família”, conclui Judite Neves, em declarações à Renascença.