Numa altura em que os preços da alimentação subiram mais de 24%, a desconfiança entre os consumidores está a aumentar.
Nos últimos dias ficámos a saber que a ASAE detetou pesagens superiores ao real e caixas de supermercado a cobrar em excesso.
Em causa está, por exemplo, a venda de bens nas caixas por preço superior ao indicado nas prateleiras, balanças que não estavam a pesar corretamente, rótulos com indicação de peso superior ao real e outras práticas enganosas. Irregularidades que levaram a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica a abrir 21 processos-crime e 36 de contraordenação.
Perante estes dados, este fim de semana, a Renascença acompanhou compras de cidadãos comuns e, perante as notícias, os consumidores estão agora mais atentos e adotaram medidas para detetar eventuais irregularidades.
Encontramos Simões Dias, à saída de um supermercado em Braga. No saco não traz muita coisa.
“Uns iogurtes, uns limões, um peixe, olhe, uma série de coisas”, conta, realçando que nada escapou à confirmação do preço na conta final.
“Olho para o preço e comparo com aquilo que vi lá no expositor. Normalmente sempre, mas agora mais ainda, porque as notícias dizem há aldrabices”, diz.
Um cuidado tido também em conta por Leonida Marques, sobretudo no que toca às promoções.
“Se forem as promoções semanais ou algo do género que é habitual nos super e hipermercados, a mudança de preço pode não estar atualizada no sistema ou algo do género. Isso sim, já me aconteceu, mas é pontual”, refere esta cliente.
A poucas centenas de metros entramos num minimercado. Aqui joga-se mais pela confiança, diz-nos Manuel das Dores.
“Pago porque já confio na pessoa. As grandes são as piores. A mim aconteceu um engano. Às vezes têm as frutas quase iguais, eu compro, vou registar, então enganam-se sempre para o preço mais caro e levo das mais baratas, isso é constantemente. Agora isto aqui é muita falta de fiscalização. Aliás, nós também temos de ser fiscais de nós próprios”, defende.
Cabaz básico aumentou num ano mais do dobro da inflação
Paula Queiroz é a proprietária do minimercado e reconhece que hoje em dia os clientes estão mais atentos aos preços. Um comportamento típico – diz-nos – quando se vive em crise.
“É mesmo a falta de dinheiro e as pessoas, depois, claro que ficam mais atentas a tudo. Isso é normal. Não protestam, mas comentam. Claro que sim. Eu não sei se é desconfiança, mas que põe as pessoas mais com os olhos abertos, sim, claro que sim. É assim, nós já passámos por uma crise e agora também vê-se mais ou menos a mesma coisa”, conta.
Uma atenção que passa ao lado de Albertine, que, aos 76 anos, admite ser difícil memorizar os preços dos produtos nas prateleiras.
“Os preços geralmente não vão marcados na embalagem. A gente confere por onde? Pela cabeça?”, questiona, concluindo que “é difícil”.
Vejo o preço na prateleira e depois vou à caixa e pago. Mas não sei de cor, quando chego a casa, o que é que custa o quê. De cabeça é difícil”, conclui.
A dificuldade dos mais velhos em confirmar o preço dos bens alimentares, numa altura em que o custo do cabaz básico aumentou num ano mais do dobro da inflação.