A conferência das Nações Unidas sobre o clima (COP27), com as negociações paradas em questões como o financiamento para os países pobres, será prolongada até sábado, anunciou hoje o presidente egípcio do evento, Sameh Choukri.
"Estou determinado a terminar esta conferência amanhã", sábado, disse hoje Sameh Choukri, apelando às partes para que "passem a uma velocidade superior" nas negociações, inicialmente previstas para terminar hoje.
"Continuo preocupado com o número de questões por resolver, nomeadamente sobre financiamento, mitigação, perdas e danos e suas ligações", afirmou o responsável, que é também ministro dos Negócios Estrangeiros do Egito.
E acrescentou: "Apelo às partes para que trabalhem em conjunto para resolver estas questões remanescentes o mais rapidamente possível".
Sobre um dos temas mais importantes da conferência, o financiamento das "perdas e danos" já sofridos pelos países pobres, a maior parte das vezes muito pouco responsáveis pelo aquecimento global, mas muito expostos aos seus impactos, parece ter havido uma evolução desde a noite de quinta-feira.
A União Europeia fez uma proposta, aceitando o princípio da criação de um "fundo de resposta a perdas e danos", sujeito a condições e à reafirmação de objetivos fortes em matéria de redução das emissões e de limitação do aquecimento global.
Uma proposta de resolução sobre perdas e danos apresentada no final da quinta-feira pelos "facilitadores" do dossier também apresentou uma opção sobre a decisão de princípio sobre um fundo específico, uma exigência dos países em desenvolvimento.
A ministra paquistanesa para as Alterações Climáticas, Sherry Rehman, atual presidente do poderoso grupo de negociação G77+China, disse na sexta-feira que esta opção era aceitável, "com algumas mudanças".
EUA, Japão e Suíça contra fundo para países em desenvolvimento
Francisco Ferreira, da associação ambientalista ZERO, que se encontra a participar na COP27, afirma que EUA, Japão e Suíça estão contra fundo para países em desenvolvimento, porque isso seria "assumir a responsabilidade de causa e efeito do ponto de vista jurídico daquilo que são as alterações climáticas e das suas consequências. É como abrir um precedente".
"Muitos aspetos ainda faltam ser acordados. Em cima da mesa estão várias discordâncias. Em relação a um dos aspetos mais importantes, as chamadas perdas e danos, ou seja, aquilo que é o apoio aos países em desenvolvimento para lidarem com catástrofes agravadas pelo aquecimento global, há toda a decisão sobre se se deve avançar ou não já com um fundo", sublinha Francisco Ferreira.
"Há três opções em cima da mesa. A primeira opção é que esse fundo deve avançar já, numa proposta dos G77+China, em que estão praticamente todos os países em desenvolvimento; depois temos uma segunda proposta em que este fundo só começaria no próximo ano; e uma terceira que defende que deve haver outro tipo de mecanismo, que não a criação de um fundo", adianta o responsável da ZERO.
A conferência anual da ONU sobre o clima tem como objetivo aumentar as promessas dos quase 200 países participantes de reduzir a emissão de gases com efeito de estufa e limitar o aquecimento global, que provoca as alterações climáticas.
Este ano aumentaram as catástrofes relacionadas com as alterações climáticas, de secas a inundações, e perante esse cenário os países do Sul global, altamente expostos aos impactos climáticos, apelaram a um acordo na COP27 de criação de um fundo para cobrir "perdas e danos".
Os países desenvolvidos, relutantes quanto a incluir essa matéria na agenda, insistiram num período adicional de discussão, antes de ser tomada uma decisão.
No final do dia de quinta-feira a União Europeia apresentou a proposta de se estabelecer esse fundo, mas insistiu que a COP27 devia em contrapartida assumir compromissos fortes em matéria de redução de emissões.
Na manhã de hoje, a presidência egípcia da conferência divulgou uma nova proposta de texto final da reunião, no qual se continua a reafirmar a determinação de impedir que a temperatura suba acima de 1,5ºC (graus celsius) em relação à época pré-industrial, uma meta estabelecida no Acordo de Paris sobre o clima, em 2015.
No entanto, os atuais compromissos de redução de gases com efeito de estufa de vários países estão longe de cumprir o objetivo e, de acordo com as análises da ONU, na melhor das hipóteses, limitarão o aquecimento a 2,4°C até ao final do século.
A COP27 começou no passado dia 6 e devia terminar hoje.