As pessoas com sintomas de ansiedade e depressão estão em maior risco de insegurança alimentar, revela um estudo desenvolvido pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).
A investigação, publicado pela revista científica Journal of Psychosomatic, foi conduzido entre novembro de 2021 e fevereiro de 2022 e baseou-se num questionário online, partilhado através das redes sociais.
Em declarações à Renascença, Ana Aguiar, investigadora do ISPUP responsável pelo estudo, explica que esta investigação pretende relacionar os sintomas de depressão e ansiedade com a insegurança alimentar. “Nós queríamos perceber inicialmente se existiria uma relação entre a insegurança alimentar e a saúde mental mais especificamente sintomas de depressão e ansiedade”, afirma Ana Aguiar.
O questionário divulgado online obteve 882 respostas que compuseram a amostra. Contudo, Ana Aguiar ressalva que “a amostra era maioritariamente constituída por mulheres, cerca de 76%, com ensino superior realizado na sua maioria, que se encontrava a trabalhar, e de ressalvar também que a maioria dos participantes encontravam-se no norte do país”.
A investigadora explica ainda que o estudo realizado permite não só concluir a ligação entre os sintomas de ansiedade e depressão e a insegurança alimentar, bem como que “esta relação é maior em pessoas com menos de 12 anos de escolaridade, pessoas que à data se encontravam desempregadas e ainda pessoas que demostravam ter um maior cuidado com os seus gastos familiares”, relata à Renascença.
Ana Aguiar ressalva que a amostra não é representativa da população, mas que os resultados obtidos devem ser tidos em conta e “nos permitem relacionar os sintomas de depressão e ansiedade como causadores de insegurança alimentar”.
Dos 882 inquiridos, 6,8% encontravam-se numa situação de irregularidade alimentar, e desses, 22,2% apresentavam sintomas de depressão e 61,7% de ansiedade. Fazendo as contas, cerca de 59 encontravam-se numa situação de insegurança alimentar, desses 59, 13 apresentavam sintomas de depressão e 36 de ansiedade.
Relativamente ao total dos inquiridos, Ana Aguiar ressalta que 6,5% tinham sintomas de depressão e 26% sintomas de ansiedade, ainda que não apresentassem necessariamente insegurança alimentar.
Apesar das discrepâncias relativamente a outros estudos, onde a amostra não foi maioritariamente do sexo feminino, Ana Aguiar diz que os resultados “são de valorizar”. Num futuro próximo deve-se, ainda, “perceber se é a insegurança alimentar que leva a uma pior saúde mental ou o contrário”, remata a investigadora.