A capital do Sudão, Cartoum, foi alvo de ataques este sábado por parte de um grupo paramilitar que reclamou ter assumido o controlo do palácio presidencial, da residência do chefe do Exército e do aeroporto internacional da cidade - algo que o exército do país nega.
Pelo menos 30 pessoas morreram e centenas ficaram feridas, segundo a ONU, naquele que foi o culminar de meses de tensão entre o Exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF), hostilidades que foram condenadas por António Guterres, o secretário-geral das Nações Unidas, assim como UE, EUA, Rússia e a Liga Árabe.
Quem são as RSF?
O grupo começou como milícias janjaweed que lutaram no conflito de Darfur, no início do século, em que foram usados pelo governo da altura, de Omar al-Bashir, para ajudar o exército a controlar uma rebelião e evolui para uma força que a Reuters estima agora em 100 mil homens, com bases militares e membros por todo o país.
Na altura, 2,5 milhões de pessoas foram deslocadas e cerca de 300 mil morreram.
Comandado pelo general Mohamed Hamdan Dagalo, que ocupa o cargo de vice-chefe do Conselho Soberano, que governa o Sudão, e é chamado de Hemedti, as RSF cresceram em número de efetivos com o tempo.
Foram mobilizados para funções de guardas fronteiriços no país, de maneira a travar a imigração irregular, ao mesmo tempo que Bashir ajudava Hemedti. Em 2015, o líder das RSF começa a criar ligações a países do Golfo, quando o grupo e o exército sudanês começaram a enviar tropas para combater na guerra do Iémen, ao lado de sauditas e emirados.
O início das tensões entre RSF e Exército
A legitimação das RSF chegou dois anos depois, em 2017, quando é aprovada uma lei que reconhece o grupo enquanto forças de seguranças independentes.
Em abril de 2019, Hemedti “trai” Bashir e as RSF participam no golpe militar que derruba o seu regime no Sudão, com o líder do grupo paramilitar a assinar um acordo de partilha de poder que o torna vice-presidente do Conselho Soberano. O chefe de Estado passa a ser o líder do Exército, o general Abdel Fattah al-Bourhan.
Mas a paz não acabou aí. Em outubro de 2021, o grupo participou noutro golpe que impediu a transição democrática do país, um gesto que o próprio Hemedti reconheceu estar arrependido, tendo expressado o desejo para um novo acordo que restaure um governo no país.
Mas durante o período de negociações para chegar a um acordo político, que já foi adiado por duas vezes neste mês devido a tensões e rivalidades entre o Exército sudanês e as RSF, o grupo começou a mobilizar-se para a capital Cartoum e outras cidades sem o consentimento ou coordenação das Forças Armadas.
A assinatura de um acordo para um novo Governo e de uma transição democrática para eleições estava originalmente agendada para 1 de abril, mas continua em stand-by.