A região de Cabo Delgado tem sido palco nos últimos dias de ataques de grupos armados que têm reivindicado a sua ligação ao Daesh, os jihadistas do grupo Estado Islâmico, desde outubro de 2017, e que têm conduzido a região para uma situação de profunda crise humanitária.
“Houve ataques em aldeias, a situação não está bem e estão todos apavorados”, diz um missionário da Igreja Católica à Fundação ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
Os ataques começaram no fim-de-semana, em várias aldeias no extremo norte da província de Cabo Delgado, e prolongaram-se até terça-feira à tarde causando mais de uma dezena de mortos e a destruição de diversas habitações.
O missionário indica que há informações também de combates entre terroristas e forças militares presentes na região de Nangade, que está situada muito próxima da fronteira com a Tanzânia.
Segundo os dados avançados pela AIS, os terroristas atacaram no domingo as aldeias de kankhomba, Janguane, Mambo Bado e Muhia, e ontem, terça-feira, 22 de fevereiro, as aldeias de Milola, Chianga, Lutona, Napuatakala, tendo obrigado as populações a fugirem e a procurar abrigo na vila de Nangade que, pela sua dimensão, aparentemente garante alguma segurança.
O missionário não sabe precisar o número exato de pessoas que terão morrido na sequência dos ataques terroristas, mas fala de um cenário de grande destruição que justifica o medo que se instalou entre as populações.
“Não tenho preciso o número de mortos, por enquanto ninguém sabe, mas houve aldeias em que queimaram casas e eram aldeias grandes, povoadas, lugares onde se faz muita ‘machamba’… e de facto eles [os terroristas] passaram e queimaram bastantes casas”, disse o missionário à Fundação AIS em Lisboa.
Paralelamente aos ataques atribuídos aos insurgentes, foram registadas várias intervenções por parte das forças militares moçambicanas, que estão a desenvolver diversas operações em toda a província de Cabo Delgado com o apoio de unidades do exército do Ruanda e de países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral.
Nessas operações, segundo informações divulgadas pelas Forças de Defesa de Moçambique, terão sido abatidos sete terroristas e desmantelados 16 esconderijos que estes possuíam no mato, assim como uma base de comunicações. Estas atividades militares decorreram também nos últimos dias no distrito de Palma.
De acordo com o missionário católico, na zona de Nangade vive-se um ambiente de verdadeiro alvoroço, provocado pelo movimento de pessoas do grupo [dos terroristas] e dos militares em combate.
Estima-se que desde que os ataques armados tiveram início, em outubro de 2017, já morreram mais de três mil pessoas. A violência terrorista provocou também cerca de 800 mil deslocados internos.