O comentador da Renascença João Duque considera que as garantias de que o país vai mesmo ter um orçamento em 2025, não são suficientes para afastar desconfianças dos investidores quanto a um eventual futuro de instabilidade no país.
“Há ainda muita incerteza no que diz respeito àquilo que vai ser a versão final do orçamento, em termos específicos, para cada uma das normas que vão, de facto, ter impacto na vida do dia-a-dia das empresas, e isso é muito relevante, é mesmo muito importante”, aponta.
O economista dá o exemplo do que se está a passar com a Repsol, em Espanha, que acaba de decidir deslocalizar um pequeno investimento, em resultado de uma alteração de uma política fiscal que torna um imposto que era provisório em definitivo sobre as empresas de produtos energéticos.
“E a Repsol pega em 15 milhões de investimento que ia fazer em Espanha e muda-o para Portugal. E isto é um sinal dado, claro, ao Governo de que não está contente e que há mercados alternativos para fazer o investimento”, assinala.
João Duque observa que “quando nós temos dois partidos que são fundamentais, e que nós sabemos que estarão sempre, provavelmente, presentes em qualquer Governo, qualquer que seja a sua composição - como o PS e o PSD, então era importante que, se calhar, fizessem alguns acordos sobre alguns aspetos; não são todos os aspetos, não são o programa de Governo, são algumas linhas ou campos de não-conflitualidade e de chamado campo comum”.
Na visão do economista, isto “permite que um investidor tenha a confiança de que ao vir para Portugal vai ter uma taxa de imposto sobre IRC que vai ser esta”.
“Nós sabemos que o PS não está contente com esta taxa de IRC e o que é que sabemos sobre o futuro? Se o PS voltar a conquistar o poder dentro de um ano, vai repor a taxa sobre a qual discorda?”, questiona.
Para Duque, “isto dá uma instabilidade tão grande que não dá confiança e, depois, isto reflete-se nos dados do investimento que estão, de facto, a crescer, mas a crescer em valores insípidos face àquilo que deveríamos ter e face àquilo que já tivemos”.
“Portanto, eu acho que o Partido Socialista, que neste momento está na oposição, tem, de facto, um papel fundamental no desenho daquilo que é o progresso do país, mesmo estando na oposição. Assim, aliás, como naturalmente o PSD que está no Governo”, remata.