Zelenskiy não abre mão de território e diz que Donbas pode mudar curso da guerra
17-04-2022 - 18:54
 • Marta Grosso

O Presidente ucraniano diz não ter dúvidas de que esta guerra é um genocídio e convida o Presidente francês a ir constatar isso mesmo com os seus próprios olhos. Avisa ainda que a Rússia pode usar uma arma nuclear.

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, recusa-se a abrir mão de território na parte Leste do país para acabar com a guerra com a Rússia e diz que os militares ucranianos estão preparados para lutar na região de Donbas.

Numa entrevista à CNN realizada na sexta-feira e divulgada neste domingo, o chefe de Estado ucraniano diz não ter garantia de que a Rússia não tentará novamente tomar Kiev se for capaz de capturar Donbas.

"É por isso que é muito importante para nós não permitir que eles se mantenham firmes, porque esta batalha... pode influenciar o curso de toda a guerra", considera, acrescentando: "Porque não confio nos militares russos e na liderança russa".

A entrevista decorre depois de sete semanas sob ataque russo e quando os militares da Ucrânia têm conseguido bons resultados na resistência à ofensiva da Rússia – uma surpresa para os serviços secretos norte-americanos e para o próprio Kremlin, que antecipava uma vitória rápida e decisiva.

Questionado se a Ucrânia será vitoriosa no conflito, Zelenskiy responde: "Sim, claro". Mas avisa: o mundo deve estar preparado para a possibilidade de Putin usar uma arma nuclear tática, uma vez que não valoriza as vidas ucranianas.

“Está claro que é um genocídio”

Durante a entrevista, Volodomyr Zelenskiy falou em ucraniano e em inglês sobre os horrores que o país tem testemunhado e da ajuda urgente que o seu exército ainda precisa para se defender da próxima ofensiva russa, no Leste e Sul da Ucrânia.

Na semana passada, o Presidente dos EUA, Joe Biden, disse que os assassinatos de civis cometidos pelas forças russas pareciam ser genocídio. "Tenho a mesma opinião do Presidente Biden", afirmou o líder ucraniano. "Veja o que aconteceu em Bucha. Está claro que não é uma guerra, é um genocídio. Eles apenas mataram pessoas. Não soldados, pessoas. Eles apenas atiraram nas pessoas nas ruas. As pessoas estavam a andar de bicicleta, à espera do autocarro ou só a andar na rua. Havia cadáveres nas ruas”, descreve.


O Presidente francês, Emmanuel Macron, que se envolveu diplomaticamente com Putin, disse em resposta aos comentários de Biden que não achava construtivo levantar a retórica. Zelensky diz que conversou com Macron na semana passada e gostaria que visitasse a Ucrânia para ver as atrocidades em primeira mão.

"Acho que ele quer tomar algumas medidas para garantir que a Rússia se comprometa no diálogo. Acabei por lhe dizer que quero que entenda que isto não é guerra, mas nada mais do que um genocídio", avança o Presidente ucraniano.

"Convidei-o para vir quando tiver oportunidade. Ele virá e verá, e tenho certeza de que entenderá”, acrescenta na entrevista.

Zelensky deseja que também Biden visite a Ucrânia. O Presidente dos EUA sugeriu na semana passada que queria ir, mas acrescentou que a hipótese ainda está a ser estudada.

O Presidente ucraniano acredita que a visita se irá concretizar. "Acho que sim. Quero dizer, a decisão dele, é claro. E depende das condições de segurança, mas ele é o líder dos Estados Unidos, e é por isso que ele deveria vir aqui para ver", considera.


Questionado sobre um vídeo divulgado na semana passada mostrando uma mulher ucraniana encontrando o corpo de seu filho num poço, Zelenskiy disse: "Esta é a coisa mais horrível que já vi na minha vida".

"Não acredito no mundo"

O Presidente da Ucrânia fica emocionado ao falar sobre a morte que a guerra causou no país, dizendo que é "uma grande dor para mim" ver as vidas perdidas.

Zelenskiy, que perdeu a família no Holocausto, foi questionado sobre o que pensa sobre os políticos de todo o mundo dizerem "nunca mais" no Dia Internacional em Memória do Holocausto, quando agora é confrontado com o que está a acontecer no seu país.

"Eu não acredito no mundo", disse em inglês. "Não acreditamos nas palavras. Após a escalada da Rússia, não acreditamos nos nossos vizinhos. Não acreditamos em tudo isso”, afirmou.

"A única crença que existe é em nós mesmos, no nosso povo; acreditar nas nossas Forças Armadas e acreditar que os países nos vão apoiar, não apenas com palavras, mas com ações", continuou, agora em ucraniano. "E é isso. ‘Nunca mais’. Realmente, o mundo inteiro fala sobre isso, no entanto, como pode ver, nem todo o mundo tem coragem."

Admitindo que ainda tem um alvo desenhado nas costas, foi questionado sobre como gostaria de ser recordado. "Um ser humano que amava a vida ao máximo", respondeu. "E amava a sua família e a sua pátria. Definitivamente, não era um herói. Quero que as pessoas me aceitem como sou. Um humano normal."