O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) vai ampliar a ajuda humanitária na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.
"O povo moçambicano enfrenta hoje uma tripla crise humanitária com ameaças persistentes devido às alterações climáticas, à pandemia Covid-19 e ao conflito armado. Continuamos ao lado de Moçambique, nestes tempos difíceis, e iremos aumentar o nosso apoio”, garantiu o presidente do CICV, Peter Maurer, no final de uma visita aquele país africano.
De acordo com Peter Maurer, serão ampliados os programas centrados na assistência, saúde e também os programas de formação na promoção do Direito Internacional Humanitário (DIH) para portadores de armas.
Em comunicado, o CICV especifica que vai reabilitar nove centros de saúde primários, que atendem mais de 175,4 mil pacientes em Pemba, e apoiar hospitais em Montepuez e Pemba, especializados no tratamento de feridas traumáticas.
Além disso, promete dar continuidade ao apoio ao centro de tratamento Covid-19 “Décimo Congresso”, em Pemba, que foi reabilitado em 2020, com doações de material de saúde e higiene.
Segundo uma avaliação feita por especialistas de saúde do CICV, 39 das 55 unidades de saúde (71%) em 9 distritos de Cabo Delgado afetados pelo conflito (há 17 distritos no total) não estão operacionais.
Ainda de acordo com o mesmo relatório, “686 profissionais de saúde fugiram dos seus locais de trabalho devido à insegurança”.
“Em Macomia, no final de maio de 2020, após um ataque à cidade, quase toda a população fugiu para o campo e as infraestruturas, incluindo uma maternidade que foi reabilitada pelo CICV depois do ciclone Kenneth, foram destruídas. Esta era a única maternidade em quilómetros”, detalha a organização humanitária.
A Cruz Vermelha vai ainda continuar a assegurar ajuda “às comunidades deslocadas e anfitriãs a localizar seus entes queridos desaparecidos ou estabelecer contato com eles”.
“Irá também doar utensílios domésticos essenciais, sementes, ferramentas e kits de pesca para ajudá-los a reconstruir as suas vidas. Finalmente, irá apoiar iniciativas para assegurar condições adequadas de detenção e tratamento dos detidos”, pode ler-se no comunicado.
O presidente do CICV lembra que mais de 500 mil pessoas fugiram do surto de violência na província de Cabo Delgado, no norte do país, desde o início de 2019.
“A maioria delas fugiu para zonas urbanas e periurbanas, como Pemba, Montepuez e Metuge, colocando pressão adicional sobre as comunidades e infraestruturas frágeis, incluindo serviços médicos", detalha Peter Maurer, acrescentando que “as instalações e o pessoal de saúde foram vitimadas duplamente, pelo ciclone Kenneth e pela violência que causou a fuga de profissionais de saúde e a destruição de mais instalações, incluindo aquelas reabilitadas pós-ciclone".