O Bloco de Esquerda (BE) quer ouvir com urgência no Parlamento os vários profissionais que se demitiram no Hospital de São Bernardo, em Setúbal, devido à falta de recursos e condições em vários serviços, nomeadamente urgência, obstetrícia, pediatria e unidade de AVC.
Depois da demissão de 87 médicos com funções de direção, o grupo parlamentar do BE faz saber que um requerimento deu entrada esta quinta-feira na comissão parlamentar de Saúde.
Os bloquistas alertam ainda que a situação no Hospital de Setúbal "não pode depender apenas de anúncios", numa alusão ao facto de o Governo ter revelado, na última semana, a intenção de contratar dez médicos de diferentes especialidades para cobrir as falhas da unidade, número que a Ordem dos Médicos considerou insuficiente.
Na origem da vaga de demissões está aquilo que o diretor clínico daquela unidade diz ser a falta generalizada de condições de trabalho.
A demissão do diretor clínico do Hospital de Setúbal surgiu na semana passada e, a esta, juntaram-se outras 86, em protesto contra um quadro "desesperante", segundo relatam os clínicos.
Na quarta-feira, em conferência de imprensa, o diretor clínico demissionário, Nuno Fachada, reconheceu a "rutura nos serviços de urgência, nos blocos operatórios, na oncologia, na maternidade, anestesia" e que, tal como está, a unidade já "não consegue mais responder à sua população" e, como tal, deve "deixar de ser financiado como um simples hospital distrital e passar a ser uma unidade multidisciplinar", para acabar com a fuga de clínicos e de outros profissionais para o setor privado e para o estrangeiro.
Dez médicos? "Melhor do que nenhum, mas não resolve"
Na segunda-feira, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde anunciou a intenção do Governo de contratar 10 médicos de diferentes especialidades, para cobrir as falhas. O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, reagiu afirmando que "é melhor do que nenhum, mas não resolve o problema do hospital, nem de perto nem de longe".
"As necessidades que eles têm em várias áreas de especialidade é muito grande, portanto estes médicos estão a dar um grito de alerta", enfatizou.
"É fundamental que o ministério da Saúde pense em renovar a sua política de contratação de médicos para o SNS, porque, senão, vamos ter situações semelhantes a esta de Setúbal - que não é uma situação única, mas é a mais aguda neste momento", rematou Miguel Guimarães.