A crise dos refugiados tem posto ainda mais a nu o verdadeiro carácter da União Europeia actual.
Não vou referir-me, contudo, ao que de mais grave tem a crise, ou seja, à triste e injusta sorte dos refugiados, abandonados por uma Europa que tem no seu seio estados altamente responsáveis pelos incêndios que lavram na Síria, no Iraque e no Norte de África. A interferência na Líbia e na Síria de alguns estados europeus foi um factor muito actuante na desagregação social, no desencadear da guerra civil e na aparição do estado islâmico que parece gozar de alguma impunidade, talvez fruto de obscuros apoios.
Menos grave, mas mais significativo do funcionamento actual da União, foram as declarações de personalidades com responsabilidade, que ameaçaram os governos que não lidassem com os problemas dos refugiados como essa personalidades queriam, com um corte de fundos estruturais.
Não tenho nenhuma simpatia pela forma como a Hungria e outros estados tratam os refugiados. Mas ameaçar com o corte de fundos estruturais é uma sugestão que vem daqueles que se julgam donos da União. Os fundos não são uma esmola nem uma benesse que a Alemanha e ouros países pagam (e com a qual em última análise, vêm também a beneficiar). A ajuda que esses fundos proporcionam está solidamente ancorada nos tratados e só nas situações que esses tratados prevêem (e que não têm nada a ver com o problema dos refugiados) é que os fundos podem ser suspensos.
A União, do meu ponto de vista ,já não tem reforma possível. Agora já às claras, a Alemanha e as respectivas autoridades, à revelia dos tratados, não perdem uma oportunidade para ameaçar os outros países se eles não seguirem o que convém à Alemanha.
É mais que tempo de ir pensando numa nova organização que, tal como a CEE nos seus inícios, garanta a paz na Europa e a igualdade entre os estados.