O relatório da OCDE é "bom guião" para o que o Estado tem que "fazer já" em matéria de cuidados continuados, defende o presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP).
Manuel Lemos sublinha a responsabilidade do "Estado em planear e em assegurar que a exploração de qualidade é viável".
O responsável diz que, “em primeiro lugar, Portugal tem poucas camas, a resposta é pequena e o acesso é difícil, e depois há o problema do envelhecimento da população”.
“Eu fui ver alguns dados que comprovam que a média de idades dos portugueses está nos 46 anos e meio. Para além de sermos o quarto país mais velho do mundo, o terceiro mais velho da União Europeia e desses três o que envelhece mais depressa a verdade é que a nossa média de idades já é muito elevada. Isto é um problema nacional e no caso concreto da rede nacional de cuidados continuados é um problema acrescido que precisa uma enorme articulação e vontade política”, afirma.
Manuel Lemos adianta que “a inscrição no PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] para criação de cinco mil camas, é um bom princípio, mas isso não chega”.
O responsável afirma por isso que "é muito bem vindo o relatório da OCDE". A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) pede intervenção urgente na área dos cuidados continuados, lembrando que para “responder ao envelhecimento da população os trabalhadores deste sector têm de aumentar em cerca de 30% na próxima década”.
O presidente da União das Misericórdias considera "óbvio para toda a gente que 15 mil camas não chegam" para as necessidades do setor. O número tinha sido avançado por um estudo pedido pelo Estado em 2006; um trabalho que "nunca mais foi atualizado". Manuel Lemos refere que "o nosso tsunami demográfico de envelhecimento tem sido fantástico" e sem avançar números adianta a necessidade de se "rever tudo".
“Estado concorrente de si próprio”
O relatório sublinha também o "rápido envelhecimento da população" nos países da OCDE, frisando que esta situação aumentará muito a procura por trabalhadores nos serviços de cuidados continuados e lembra que "cada vez menos trabalhadores poderão estar disponíveis e dispostos a assumir estes trabalhos, pois tendem a ser mal pagos, executados em condições de trabalho difíceis e não são reconhecidos".
Manuel Lemos concorda com o diagnóstico e afirma que muitas vezes “é o Estado quem retira trabalhadores ao sector social” que tem a responsabilidade de assegurar a maior parte deste serviço de cuidados continuados.
“Estas unidades não funcionam sem uma dotação de enfermeiros e nós nos últimos anos temos visto e bem os hospitais a irem contratar enfermeiros. E o campo fácil de recrutamento é encontrar nas proximidades unidades de cuidados financeiros. Os hospitais chegam lá e pagam mais 15 ou 20% e levam-nos embora, porque as instituições não têm capacidade financeira para acompanhar aquilo que o Estado paga”, revela.
O responsável afirma que "o Estado quase que acaba por se tornar concorrente de si próprio porque paga muito mais num hospital do que paga a uma instituição para ter o mesmo enfermeiro numa unidade de cuidados continuados".