“Hoje será corrigido o equívoco”. A garantia é deixada na Renascença pelo ministro dos Negócios Estrangeiros em relação à medida espanhola que exigia testes negativos à Covid-19 na fronteira terrestre. Esta decisão entrou em vigor na segunda-feira e causou surpresa e mal-estar em Portugal.
“Portanto, muito obrigada a Espanha pela prontidão com que revolveu o assunto”, afirma Augusto Santos Silva.
À Renascença, o ministro explica que a decisão de Madrid emanou da direção-geral de saúde de Espanha, “que, por razões que podemos compreender, não teve em conta que a gestão das fronteiras não é apenas uma responsabilidade das autoridades sanitárias, mas é uma responsabilidade dos governos, em particular dos Ministérios da Administração Interna”.
Portugal pediu explicações logo na segunda-feira e “Espanha foi extremamente rápida em enviar-nos os esclarecimentos que tínhamos pedido e disse-nos que corrigiria de imediato este equívoco”.
“A questão está totalmente sanada”, garante Santos Silva, agradecendo “às autoridades espanholas a forma muito rápida e amiga com que resolveram este equívoco”.
Segundo o “Diário de Notícias", Espanha admitiu que tal medida “teria um grave impacto na relação política e económica entre os dois países” e, por isso, vai corrigi-lo, depois de intensas conversações diplomáticas.
Na segunda-feira, quando foi conhecida a restrição espanhola à entrada via Portugal, as reações não se fizeram esperar.
“Percebemos que, em tempo de pandemia, cada um trate de si e Deus trata de todos. Mas há limites para este entendimento até no quadro da UE”, reagiu o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Antes, o ministro dos Negócios Estrangeiros tinha afirmado à Renascença que aguardava explicações, considerando que “só pode ser um equívoco” de Madrid.
“Pedimos esclarecimentos às autoridades espanholas, aos diferentes níveis político-diplomáticos, começando aliás pelo meu nível. Esperemos esses esclarecimentos tão brevemente quanto possível por aquilo que só pode ser um equívoco ou um erro. Na ausência desses esclarecimentos teríamos de tomar medidas recíprocas”, avisou Santos Silva.
O chefe da diplomacia portuguesa sublinhou ainda quem “nos momentos mais difíceis da pandemia”, os dois países vizinhos mantiveram “coordenadamente as fronteiras fechadas”, não fazendo sentido que agora, com as fronteiras abertas, exista “uma exigência cuja verificação paralisaria o transito rodoviário”.
A medida espanhola – que entrou em vigor três dias depois de os primeiros-ministros e chefes de Estado dos dois países terem estado juntos – tinha várias características singulares, entre as quais a exigência de o certificado exigido (vacinação, recuperação da Covid ou dos testes à Covid-19) terem de estar escritos numa de quatro línguas: espanhol, inglês, francês ou alemão. Nada de português, o que implicaria um documento extra, de tradução do certificado, realizada por um organismo oficial.
Além disso, estas restrições eram aplicadas a Portugal, mas não ao Reino Unido.
Mas Espanha vai agora corrigir a decisão, que poderia ter também como objetivo defender a economia espanhola, levando os espanhóis a fazer férias no próprio país.