O Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) considera que as novas tecnologias são uma oportunidade e uma importante ferramenta para o diagnóstico e tratamento de doenças, mas não podem criar desigualdades no acesso aos cuidados de saúde.
O alerta consta do "Relatório sobre o Estado da Aplicação das Novas Teconlogias à Vida Humana". O documento é divulgado esta sexta-feira, durante uma conferência sobre as "Tecnologias Disruptivas em Saúde", como a Edição Genómica e a Inteligência Artificial, na Universidade do Algarve.
Em entrevista à Renascença, a presidente do CNECV, Maria do Céu Patrão Neves, diz não ser "difícil de compreender que, quando se fala de tecnologias disruptivas, que implicam uma quebra de procedimentos habituais e uma aceleração enorme da mudança, há sempre o risco de haver cidadãos que ficam para trás".
Nestas circunstâncias, Maria do Céu Patrão Neves defende que, "para garantir a justiça social, teremos que pensar em mecanismos para que os cuidados de saúde sejam igualmente prestados". Dá o exemplo: "Não são apenas aqueles que têm fácil acesso à tecnologia digital que podem usufruir de melhores cuidados. Também as pessoas mais idosas, com mais dificuldades de acesso a estas tecnologias, devem continuar a merecer o mesmo tipo de cuidados proporcionados às suas necessidades."
A presidente do CNECV explica que há Inteligência Artificial a ser aplicada à saúde com grandes benefícios. É o caso do chamado "Assistente Digital", que auxilia o médico na definição de diagnósticos e na prescrição de tratamentos. No entanto, também aqui, há riscos. Por exemplo, porque "tem de ser um apoio para o médico, mas não o pode substituir. Se isso acontecer, a pessoa ficará entregue a uma Inteligência Artificial que é padronizada, mecanizada, automatizada e que vai tratar todos os doentes de acordo com o mesmo padrão".
Já quanto à Edição Genómica, que implica uma manipulação dos genes, Maria do Céu Patrão Neves lembra o risco que representa a tentação de melhorar, geneticamente, as gerações futuras. "Abriríamos a porta a outras formas de intervenção que não são meramente terapêuticas, são já sociais, e de melhoramento do próprio ser humano. Seriam as gerações atuais a escolher o modelo de humano para as gerações futuras", alerta.