A classificação do Barroso como Património Agrícola Mundial pode estar em risco se se concretizar a mina de lítio, em Covas de Barroso.
O alerta parte do presidente da Câmara de Boticas precisamente no dia em se assinalam cinco anos da classificação pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Para Fernando Queiroga “o selo de Património Agrícola Mundial é um orgulho para todos os botiquenses e continua a ser um desígnio nosso que este território se perpetue no tempo sob a denominação de Reino Maravilhoso, como afirmava Miguel Torga”.
No entanto - alerta o autarca – é algo que se encontra “seriamente ameaçado pela possível exploração de lítio em Covas do Barroso, o que, a confirmar-se, irá pôr em causa esta classificação, já que afetará uma área muito significativa do Barroso Património Agrícola Mundial”.
Na visão do presidente da Câmara de Boticas, a mina prevista para o concelho vai destruir “habitats e o meio-ambiente”, e tal “fará com que esta região perca a sua maior riqueza e nunca mais se consiga recompor, já que em poucos anos se irá destruir o que levou séculos a construir, levando o Barroso a perder a sua identidade e o carácter diferenciador da sua paisagem e das suas práticas comunitárias”.
A mina do Barroso, que terá uma duração estimada de 17 anos, localizar-se-á nas freguesias de Covas do Barroso, Dornelas e Vilar e Viveiro, em Boticas, mas atravessa ainda a freguesia de Canedo, em Ribeira de Pena.
Está prevista uma exploração de lítio e outros minerais a céu aberto e a área de concessão prevista é de 593 hectares, encontrando-se integrada no sistema agrossilvopastoril da região do Barroso, classificado como Património Agrícola Mundial pela FAO.
Selo de qualidade é importante para o desenvolvimento da região
Reforçando a importância da classificação atribuída ao território há cinco anos, a autarca destaca “as mais valias que a mesma veio trazer à região do Barroso, amplamente promovida durante este período de tempo, atraindo cada vez mais visitantes a este território de caraterísticas únicas”.
No seu entender, “este selo de qualidade” é um importante contributo “para um maior desenvolvimento do Barroso, através da concretização das ações previstas no Plano de Ação do Território GIAHS e da sensibilização dos nossos agricultores, bem como os proprietários florestais, para a preservação do vasto património agrícola, paisagístico e florestal existente na região”.
A região do Barroso, constituída pelos concelhos de Boticas e Montalegre, foi certificada como Património Agrícola Mundial, pela FAO, no dia 19 de abril de 2018, reconhecendo “o sistema agro- silvo-pastoril do Barroso como um importante método de defesa do património agrícola a nível mundial”.
“Teve como fundamento a valorização do mundo rural e dos produtos endógenos, sustentado pela preservação da agricultura tradicional, associada a práticas e métodos ancestrais desenvolvidos pelas comunidades locais, bem como a proteção do meio ambiente e das paisagens”, recorda a autarquia, assinalando o facto de o quinto aniversário de Património Mundial coincidir com o último dia da Consulta Pública relativa ao Projeto de “Ampliação da Mina do Barroso”, que pretende a exploração de lítio em Covas do Barroso.
Um empreendimento que “ameaça seriamente o direito à saúde, ao ambiente e à qualidade de vida, direitos elementares das populações, constitucionalmente consagrados”, sinaliza.