"Se Bolsonaro resolver queimar a Amazónia, isso não é um problema só do Brasil"
09-08-2019 - 21:47
 • Renascença com Lusa

Meia centena de pessoas estiveram esta sexta-feira em Lisboa numa iniciativa em defesa dos territórios e dos povos indígenas.

Meia centena de pessoas concentraram-se esta sexta-feira na Praça Luís de Camões, em Lisboa, numa iniciativa em defesa dos territórios e dos povos indígenas, por ocasião do Dia Internacional dos Povos Indígenas.

Segundo afirmou Andrea Bagnoli, membro do Fórum Indígena Lisboa, associação organizadora do protesto, a iniciativa visou “denunciar a situação inaceitável que se está a passar" com os povos indígenas. "O objetivo primário é a consciencialização, ou seja, a denúncia e a informação. O Fórum nasceu mesmo por isso, porque aqui na Europa chegam muito poucas informações do que se está a passar”, explicou Bagnoli.

O manifestante assinalou que "na Colômbia, só nesta semana, foram mortos quatro líderes indígenas" e que há, no Brasil, desde o início do ano, "uma guerra declarada face aos povos indígenas", assim como uma desmatação da floresta Amazónia.

A maioria dos participantes na iniciativa, que se começaram a concentrar por volta das 15h00, apresentava-se com pinturas faciais. Joana Canelas, também do Fórum Indígena Lisboa, assinalou que estas pinturas faciais representavam uma "solidariedade com os povos indígenas", referindo que estas eram também "pinturas de guerra" na luta "contra a exploração dos povos e dos territórios" que estes ocupam.

O Fórum Indígena Lisboa apresenta-se como uma "plataforma de solidariedade internacional e de pressão política face aos atentados aos povos indígenas de todo o mundo", assumindo as "lutas locais pela defesa dos territórios, militando pela reflorestação e agindo contra o extrativismo de combustíveis fósseis e as alterações climáticas".

Fernando Sousa, da Rede Suíça de Apoio aos Indígenas e do Fórum Indígena Basileia, destacou a importância destas manifestações em territórios europeus. "Através da economia globalizada e da política globalizada, nós temos uma interligação muito forte com aquilo que acontece na Amazónia ou em qualquer outro território indígena", disse.

O ativista acrescentou que as atividades económicas de "muitas das empresas que estão sediadas na Europa, nos Estados Unidos ou noutros países ricos" têm "consequências muito nefastas para os povos indígenas e para os direitos dos povos indígenas".

Já Bruno Falci, do Coletivo Andorinha e representante do grupo Jornalistas Livres em Portugal, acusou o Governo do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, do ataque às comunidades indígenas naquele país. "Através do Governo Bolsonaro retirou-se, por exemplo, que a Funai (Fundação Nacional do Índio) cuidasse das questões indígenas no Brasil, que é uma fundação histórica e supra Governo (e ele mudou essa responsabilidade para o Ministério da Agricultura", afirmou Falci, também membro do Partido dos Trabalhadores.

Falci acusou o Ministério da Agricultura de defender "os grandes proprietários rurais" e que este "não tem o menor interesse em proteger a Amazónia". "Se o Bolsonaro resolver queimar a Amazónia, isso não é problema só do povo brasileiro, isso é um problema internacional. O aquecimento global é uma realidade científica", concluiu.

Segundo dados da análise global da organização não-governamental irlandesa Front Line Defenders, mais de 200 líderes sociais foram assassinados em 2018, incluindo na Colômbia (126), México (48), Guatemala (26) e Honduras (oito).

A ação de protesto foi coorganizada por associações como o Coletivo Andorinha, a SOS Racismo, a Greve Climática Estudantil, entre outras.