No regresso às audiências públicas semanais, no Vaticano, o Papa falou esta quarta-feira da “peregrinação espiritual” que realizou ao Canadá, de 24 a 30 de julho. Francisco renovou o pedido de perdão aos povos indígenas, vítimas das políticas de assimilação cultural forçada em que muitos cristãos estiveram envolvidos no passado, apesar de serem “inaceitáveis e contrárias ao Evangelho”.
A visita teve “muitos momentos de alegria”, mas foi sobretudo de “reflexão, arrependimento e reconciliação”, afirmou o Papa, admitindo que nos encontros que manteve, “sobretudo o último”, sentiu “a dor” das pessoas “como bofetadas”.
“Idosos que perderam filhos e não sabiam onde tinham ido parar, por causa desta política de assimilação. Foi um momento muito doloroso, mas era preciso dar a cara. Temos de dar a cara diante dos nossos erros, dos nossos pecados”, afirmou Francisco, que nesta audiência pública semanal apareceu apoiado numa bengala.
Sublinhando que “o caminho com os povos indígenas foi a espinha dorsal desta viagem apostólica”, o Papa reafirmou ainda “a vontade ativa da Santa Sé e das comunidades católicas locais de promover as culturas originais, com caminhos espirituais apropriados e com atenção aos costumes e línguas dos povos”. Mas voltou a advertir, como fez durante a visita, que a “mentalidade colonizadora” continua presente através de “várias formas de colonização ideológica”, que ameaçam “as tradições, a história e os laços religiosos dos povos, nivelando as diferenças, concentrando-se apenas no presente e negligenciando frequentemente os deveres para com os mais débeis e frágeis”.
Para o Papa é preciso “recuperar um equilíbrio saudável, uma harmonia entre a modernidade e as culturas ancestrais, entre a secularização e os valores espirituais”, o que “desafia diretamente a missão da Igreja”.
O Papa não usou esta quarta-feira a palavra "genocídio", mas na viagem de regresso a Roma, no fim da visita ao Canadá, admitiu que foi isso que aconteceu com os povos indígenas do Canadá.
Líbano como “terra de paz e pluralismo”
No final da audiência geral, o Papa recordou a explosão no porto de Beirute, no Líbano, que ocorreu a 4 de agosto de 2020, causando mais de 160 mortos e milhares de feridos.
“Amanhã é o segundo aniversário da explosão. Os meus pensamentos vão para as famílias das vítimas desse evento desastroso e para o querido povo libanês. Rezo para que todos possam ser consolados pela fé, confortados pela justiça e pela verdade, que nunca pode ser escondida”, afirmou o Papa.
Francisco renovou o pedido para que o Líbano, “com a ajuda da comunidade internacional, continue no caminho do renascimento, permanecendo fiel a sua vocação de ser uma terra de paz e pluralismo, onde comunidades de diferentes religiões possam viver em fraternidade”.