Carla Castro tem 44 anos, é deputada e vice-presidente da Bancada Parlamentar da Iniciativa Liberal e integra a atual direção de João Cotrim Figueiredo. Em entrevista à Renascença, diz que esta não é uma candidatura de rutura.
Os membros vão votar numa candidatura que promete agora mudar o que não fez antes na comissão executiva?
Esta é uma nova fase na Iniciativa Liberal, de evolução e crescimento. O João quando se demitiu, e eu concordo com o diagnóstico, disse que é preciso uma nova estratégia de crescimento. E a minha candidatura significa que estamos numa fase de amadurecimento, que passa por uma descentralização, isto é, contar com os membros, os autarcas e os núcleos. Outra ideia é a profissionalização do partido e haver uma separação de poderes entre os diferentes órgãos da IL, a jurisdição, a comissão de fiscalização, o Conselho Nacional, a Comissão Executiva.
Na moção de estratégia, com a qual vai a votos na convenção, há uma preocupação de dar resposta às críticas de falta de democracia interna no partido. E diz que “o que será decidido não será feito de forma autocrática e centralizada”. É isso que acontece agora?
Tem existido muita centralização e defendo uma maior descentralização. É por isso que, com esta nova fase de crescimento, temos de avaliar quais são as equipas e os projetos mais bem preparados. Eu considero que é muito importante a comissão executiva ser o início de uma equipa. Propomos uma equipa mais pequena, que está preparada para trabalhar em rede. Cada elemento da comissão executiva, para além de uma área executiva, vai assumir uma bandeira política, como por exemplo, a mobilidade, a habitação, os desafios demográficos.
Que diferenças há entre a sua candidatura e a de Rui Rocha? É apenas uma questão de organização interna?
Ambos fomos eleitos deputados com um programa político, somos liberais em toda a linha e isso é para manter. Mas o que estamos a discutir é qual a moção de estratégia que vai fazer crescer a Iniciativa Liberal. A nossa proposta é chegarmos a terceira força política nacional, mas porque nós merecemos e não porque os outros partidos não estão a fazer boa política. Para isso vamos andar no terreno, estar mais próximos.
Vai conseguir fazer esse trabalho e ser deputada ao mesmo tempo?
Sim. A comissão executiva é uma equipa.
Diz que que é uma líder preparada e que a sua comissão executiva tem experiência governativa. Está a preparar o partido para a possibilidade de eleições antecipadas legislativas?
Claramente, nós temos de estar preparados para essa possibilidade. Nós vamos dotar o gabinete de estudos com políticas nacionais, mas também locais e internacionais. E depois uma área de academia liberal e de políticas públicas, para preparar o partido para governar.
Na moção define metas para as próximas eleições, ser a terceira força política. Rui Rocha deixa claro que não há acordos pós-eleitorais com o CHEGA. Qual a sua posição?
Não há acordos com o CHEGA.
A IL só irá para um Governo com o PSD se o Chega não entrar na equação?
Absolutamente fora de questão.
Mas há um acordo nos Açores, e já defendeu esse acordo e disse que era para continuar…
Esse acordo é com o PSD e, portanto, nós só vamos fazer acordos com o PSD. A Iniciativa Liberal não integra um governo onde está o CHEGA.
Tem na sua comissão executiva como vice-presidente Filomena Francisco que foi militante três dias do CHEGA. A Carla Castro já disse que este é um não caso e que ela só foi ver o processo. Mas o que é isso de ver o processo?
Essa é uma situação que está esclarecida. Não é um tema. Ela não foi militante ativa e já demonstrou isso. A Filomena foi uma belíssima candidata em Loures, foi uma candidata em que, quer com o João, quer com muitas pessoas da equipa do Rui, foi muito apreciada. É uma belíssima liberal.
Muitas pessoas ainda não perceberam as vantagens das políticas liberais
Na moção estabelece como prioridade alargar o eleitorado, ir para além do Twitter e dos cartazes. Diz que é preciso usar uma linguagem próxima dos cidadãos e dos seus interesses, “temos de saber contar histórias”. Acha que os portugueses ainda não perceberam o que é que o partido defende?
Sem dúvida, muitos portugueses ainda perceberam e esse é um trabalho que nos propomos fazer. Temos de chegar às pessoas de baixos rendimentos, à classe média, aos jovens e aos abstencionistas. Muitas pessoas ainda não perceberam as vantagens das políticas liberais. Isso significa que temos de sair mais para a rua. Temos de diversificar as bandeiras. Quanto à comunicação, o que corre bem é para manter, por exemplo as redes sociais.
E os deputados não têm conseguido passar essa mensagem… há dois temas fortes, a TAP e a taxa única de IRS. Por exemplo, na educação, que propostas tem para a falta de professores?
Na minha opinião, o grupo parlamentar tem tido belíssimas prestações. Mas é um desafio para a Iniciativa Liberal crescer para além da assembleia da república e diversificar as bandeiras.
E os professores…
Para destacar apenas uma medida, dar mais autonomia às escolas. Não há possibilidade de contratação de professores nem para definir um pacote salarial de um docente. Por exemplo, um dos maiores problemas para um professor em Lisboa será a habitação, mas no interior do país a questão poderá ser uma maior recompensa financeira. As escolas devem ter autonomia também sobre este ponto. É também necessário trabalhar na atratividade da profissão, e permitir às escolas construírem os seus projetos próprios.
Se for eleita propõe a realização de um festival liberal para a divulgação do liberalismo. É uma festa do Avante, mas liberal?
(risos) Vai ser um bocadinho mais, propõe ser um grande momento cultural. Temos de celebrar o que é a cultura liberal, com música, com eventos, um convívio. Temos de ser responsáveis por trazer mais liberalismo a Portugal. As políticas liberais são essenciais para o país, são essenciais para uma visão de futuro em prosperidade. Nós temos um país estagnado, um país sem esperança.
Propõe que a IL volte a tentar a eleição de um vice-presidente da Assembleia da República. Os deputados tomaram a decisão de não voltar a apresentar candidato. Porque mudou de ideias?
Não é uma mudança, mas uma continuidade. Nós tomámos essa decisão, mas sempre ficou em aberto, reequacionar a recandidatura, com uma mudança política. A minha avaliação é que nós estamos num enquadramento político diferente pela mudança de liderança partidária. É importante dar um sinal de que a Iniciativa Liberal é um partido que se quer de governo e não de protesto. E que, para além de ser oposição, é, efetivamente, uma alternativa. Este é um cargo a que devemos voltar a candidatar pela representação institucional.
E já tem algum deputado para o lugar?
Essa é uma decisão dos deputados e o presidente do partido não deve dar indicação.
E se ninguém quiser… Está disponível?
Não. Acho que ser presidente do partido e ser vice-presidente da Assembleia da República são dois cargos que não são acumuláveis. Se tomarmos a decisão, obviamente vai haver candidato. No grupo parlamentar, é muito claro a responsabilidade com que assumimos os nossos mandatos. Fomos eleitos, temos um programa para cumprir e uma responsabilidade para com os mais de 260 mil eleitores que votaram em nós. Logo, é com naturalidade que vão surgir nomes para esta representação.