Cerca de uma centena de pessoas marcharam esta sexta-feira, no Centro Histórico do Porto, pelo direito à habitação e reclamando contra a ausência de soluções políticas.
Para a representante do Movimento Direito à Cidade, Inês Branco, o "problema da transformação da cidade, não só da habitação, mas também do comércio local, dos transportes, é uma questão que não está a ser devidamente respondida pelas forças políticas".
Exemplo disso, acrescentou, são "as alterações feitas esta semana [pela Assembleia da República] sobre o alojamento local", que Inês Branco considera "insuficientes".
Defendendo "uma suspensão imediata do alojamento local" no Porto, o movimento entende que se "devia parar para pensar a cidade".
Prosseguindo a crítica à classe política, culpou a Lei dos Despejos, "que teve a oportunidade de ser revogada esta semana, mas o PSD, o CDS e o PS decidiram não dar esse passo" pelos "muitos despejos verificados", alertando que "sem essa revogação o problema dificilmente abrandará".
"Com esta lei, para o ano ou daqui a cinco anos, os despejos vão aumentar muito", avisou Inês Branco.
'Gourmetização' da cidade
Enfatizando que o movimento "não tem nada contra o turismo", lembrou caber aos "políticos do país e da cidade defender que ela não seja descaracterizada", sustentando que "ninguém quer ir a uma cidade para ver mais turistas".
"Para quem reside no Centro Histórico, é cada vez mais difícil ter o comércio local acessível perante a 'gourmetização' da cidade, onde o que é português não é para os portugueses", criticou.
Dando conta que após a manifestação de 07 de abril levada a cabo pelo movimento no Porto "seguiram reivindicações para a câmara, Assembleia da República e Presidência da República", a ausência de resposta das instituições não "é desmobilizadora".
"Acreditamos que isto vai ter de ser conseguido na rua, as pessoas têm de ter um espaço para fazerem ouvir os seus problemas. Enquanto não tivermos sinais de uma tomada de posição séria, não iremos desistir da nossa vida na cidade", garantiu Inês Branco.
A marcha iniciou-se no Passeio das Virtudes e seguiu pelo Centro Histórico até Miragaia, marcando o roteiro de onde "há muita gente a ser despejada e muita especulação imobiliária", sintetizou a ativista.
E por entre as palavras de ordem que chamaram a atenção aos turistas, havia uma mensagem, escrita em inglês, que alertava para o "crescimento selvagem do turismo" no Porto, cidade onde, sublinhava o texto, os portuenses "têm o direito de continuar a viver".