O PS deixa Rui Rio a falar sozinho, ninguém responde ao desafio do líder do PSD para um frente a frente entre Mário Centeno e Joaquim Sarmento, mas nas entrelinhas percebe-se que os socialistas estão a gozar o momento.
No comício de arranque do período oficial de campanha, António Costa começou o discurso precisamente com uma referência "ao Mário, que há quatro anos quando apareceu muita gente olhou para ele com desconfiança".
Acabada a legislatura, "que bom que é todos quererem o ‘seu’ Centeno", com o líder socialista a rematar com um sibilino: "quem desdenha quer comprar, mas o passe não está à venda", numa linguagem futebolística que também Eduardo Ferro Rodrigues adotou.
O presidente da Assembleia da República, e candidato do PS a deputado pelo círculo eleitoral de Lisboa, falou do ministro das Finanças como uma "mistura de CR7 [Cristiano Ronaldo] com Messi [jogador argentino ao serviço do Barcelona], com muitos golos e jogo para outros marcarem".
Todas estas referências levaram ao rubro o pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, onde o próprio Mário Centeno falou longamente sobre a mensagem do PS para estas eleições legislativas: as "contas certas". Sem qualquer modéstia, o ministro das Finanças puxou dos galões falando de um Portugal "campeão do crescimento, da criação de emprego de qualidade e da produção de bem-estar", arrancando palmas na sala apinhada.
Centeno apostou ainda nas críticas ao alegado "choque fiscal" e o "leilão de promessas que o líder do PSD quer "agora infelizmente repetir", referindo que "o país não precisa de voltar aos retificativos de Rui Rio e Manuela Ferreira Leite" em 2002.
Ficaram ainda acusações de que o PSD está a apostar na "fábula da folga orçamental de 15 mil milhões de euros em 2023" e que só o pode fazer porque o "PS colocou Portugal no mapa do crescimento económico europeu, mas não há espaço orçamental sem crescimento económico", e isso "eles", ou seja, Rui Rio e o PSD, "ainda não conseguiram aprender".
Neste longo comício noturno que incluiu cinco discursos houve ainda tempo para a mensagem política da "estabilidade". Eduardo Ferro Rodrigues terá sido o mais direto. O presidente do Parlamento a avisar os socialistas que o "que está em causa é o António Costa governar com condições, sem crises políticas e para isso é preciso que o povo vote no PS".
E até o clima de tensão entre António Costa e a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, foi alvo do discurso de Ferro. Representando uma ala mais à esquerda no PS, o ex-secretário-geral do partido tentou aliviar o clima entre os até agora parceiros na solução de Governo.
Ferro Rodrigues a assumir que "é normal a demarcação entre os partidos", que o que não é "tão normal são os excessos e agressividade desta campanha", mas ressalvando que não se pode esquecer que "há quatro anos passaram-se coisas bastante piores nos debates televisivos e isso não impediu que houvesse soluções políticas", arrancando aqui umas palmas tímidas na plateia.
De registar que enquanto o comício não começou e se aguardava que o pavilhão enchesse, ouviu-se um registo musical pouco frequente nas caravanas do PS, em que a escolha foi desde o mais recente "Coração não tem idade (vou beijar)”, de Toy, com os militantes socialistas a acompanharem o já clássico refrão "toda a noite" e ouviu-se também o "Baile de Verão", de José Malhoa, ou ainda a música de Quim Barreiros, "A garagem da vizinha".