Há cada vez mais países a reforçar o controlo e despistagem da Covid-19 entre os passageiros: Itália, Espanha, França e Reino Unido na Europa, a que se somam EUA, Japão, Israel, Coreia do Sul e Malásia. E Portugal? Já decidiu o que vai fazer perante a "explosão" do número de casos na China?
Em Portugal, os ministérios da Saúde, Administração Interna e dos Negócios Estrangeiros também já prepararam um plano conjunto para o controlo e despistagem da Covid-19 entre os passageiros oriundos da China, mas atenção: o ministro da Saúde, Manuel Pizarro assumiu, na Renascença, que esse plano só será aplicado se, e quando, vier a ser necessário.
O ministro da Saúde lembra que, por semana, há apenas uma ligação aérea direta entre a China e Portugal, ao contrário do que acontece com outros países europeus, incluindo a Espanha.
Manuel Pizarro tem insistido, por outro lado, que prefere uma ação coordenada por parte da União Europeia.
O que diz de tudo isto o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa)?
Começa a mudar de posição. Ainda na última quinta-feira, a 29 de dezembro, o ECDC considerou injustificada a despistagem obrigatória da Covid-19 entre os passageiros chegados da China à União Europeia.
No entanto, o ECDC admite, agora, rever esse risco. Tanto mais que a China acaba de reconhecer, pela primeira vez, que os números de infeções e de mortes por Covid-19 estão a aumentar, desde que aboliu a sua política de "Covid zero", há cerca de um mês.
O que dizem os últimos números da China?
Há um dado verdadeiramente alarmante. Citada pelo jornal britânico “Times”, a diretora do Departamento de Assuntos Médicos da Comissão Nacional de Saúde chinesa, Jiao Yahui, admite que 70% da população da cidade Xangai estará agora infetada.
Este valor significa um aumento de 30 a 40 vezes, relativamente ao número de casos registados em abril e maio do ano passado, quando prevaleciam na China as apertadas restrições previstas na política “Covid Zero".
Xangai tem uma população estimada de mais de 25 milhões de pessoas. Admitir que há 70% de infetados é o mesmo que dizer que, só na maior cidade da China, há mais de 17 milhões de pessoas infetadas.
Estes são os únicos dados oficiais divulgados, até agora, pela China, mas a agência Bloomberg sugere que, só nas primeiras três semanas de dezembro, terão ocorrido 250 milhões de infeções em toda a China.
E perante esses dados o que está a fazer a Organização Mundial da Saúde (OMS)?
A 31 de dezembro, a OMS fez saber que participou numa reunião de alto nível com as duas principais organizações de saúde chinesas - a Comissão Nacional de Saúde e a Agência Nacional de Controlo e Prevenção de Doenças - para analisar a "explosão de casos".
Na prática, a OMS pediu às autoridades chinesas que dê conta, em tempo real, da situação epidemiológica do país, incluindo dados estatísticos sobre internamentos por Covid-19, óbitos ou o número de vacinas administradas.
Fará sentido apertar o rastreio da Covid-19 à chegada a Portugal apenas para os passageiros que vêm da China?
É uma boa pergunta que a Renascença colocou nos últimos dias a Gustavo Tato Borges. O presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública considera que não faz sentido limitar esse controlo apenas a passageiros que cheguem da China.
Caso essa medida venha a justificar-se, diz o especialista, o melhor será alargá-la de imediato "a toda a gente que chegue a Portugal, venha de onde vier. Só assim teremos a certeza que não escapa ninguém que possa estar infectado”.
Na leitura de Gustavo Tato Borges o rastreio de passageiros só deverá ser novamente apertado "se for, entretanto, identificada uma nova variante de preocupação".
Nesse caso, justifica-se apertar o controlo. Mesmo assim deve ser para todas as pessoas que viajam para Portugal e não apenas para os passageiros chineses, sublinha Gustavo Tato Borges.