Fecha um pequeno banco de campismo, já com sinais de muito uso, para o voltar a abrir, um pouco mais à frente na fila. Inharim, de origem paquistanesa, está à porta da Agência para a Integração Migrações e Asilo, em Lisboa. Pouco depois das seis e meia da manhã já dezenas de pessoas, a maioria imigrantes, aguardava pela abertura dos serviços. E depois de abrir, há que ter paciência e perceber que há novos procedimentos e poucos funcionários, que foram redistribuídos por outros locais e que reduzem em muito a capacidade de atendimento.
Inharim sorri, e pouco mais. Não fala uma palavra de português, mas em inglês, lá explica que é a terceira vez que ali vai, para tentar obter autorização de residência em Portugal.
Também antes das sete da manhã já Idalina Pedroso está na fila. Chegou cedo ao Centro de Saúde de Odivelas, por volta das seis, por uma razão.
"Porque a senha é limitada. E por isso, tenho de vir cedo. Se não vier cedo, não conseguimos fazer o que queremos". No caso, explica, o cartão de utente do Serviço Nacional de Saúde.
Cobre a cabeça com um gorro, porque o frio aperta, e lá continua à espera, à medida que a fila vai engrossando com a chegada de mais pessoas.
O mesmo se verifica na Loja do Cidadão das Laranjeiras, onde agora a fila - com cerca de trezentas pessoas - se forma nas traseiras do edifício, que dão para um parque de estacionamento. Pelo menos os primeiros trinta na fila são estrangeiros. O cartão canelado e os sacos com mantas denunciam que passaram ali a noite, tal é a vontade de chegar primeiro.
Visivelmente com frio, Rodrigo Dias está encostado a uma das paredes exteriores do edifício, a esfregar as mãos uma na outra.
"É complicado aceder aos serviços públicos. Muito complicado. Eu tenho Síndrome de Asperger e é a minha mãe que trata de muitos dos meus documentos", explica este jovem, que olha carinhosamente para a mãe que acaba de chegar, depois de ter ido ao café no Centro Comercial ali mesmo ao lado enquanto o filho guardou o lugar.
Não é a primeira vez que Carla Rosa ali está. Da primeira, os funcionários das Finanças disseram-lhe que podia resolver vários assuntos pela internet. Só que, explica, nem para todos é fácil navegar pelas páginas dos serviços e encontrar respostas para os problemas.
É mais fácil presencialmente, nem que para tal tenha de fazer inscrição prévia e fazer dezenas de quilómetros. Carla já teve de ir até Santarém. "Era o sítio mais próximo na altura. Mas noutras ocasiões, tentei agendar e era em sítios mais distantes. Tão distantes que acabei por resolver o assunto de outra forma".
"Não há nada a fazer a não ser esperar", partilha José Dias, que aponta o dedo a quem toma decisões.
"Está muito mau, isto. Os nossos governantes dizem que é para aqui, é para acolá... Mas não dão conta disto".
A falta de funcionários é apontada por Maria de Jesus como a origem de todos os problemas. "Claro que é. Não há empregados não despacham o pessoal. E dão senhas porque, se lá estivessem funcionários suficientes, não era preciso estar aqui tão cedo", lamenta esta empregada de limpeza.
"Estou aqui desde as seis da manhã, naquele que é o meu único dia de folga. Levanto-me todos os dias às quatro e vinte e hoje tive de me levantar à mesma hora".