Durante a manhã deste sábado, foram apresentadas moções ao congresso de Coimbra que defendem mais democracia interna no Chega, a denunciarem um clima interno de ameaça e de insulto, mas o verniz estalou mesmo na apresentação da moção "Pela clarificação ideológica do Chega", de Luís António Alves, que provocou um debate em pleno congresso com um ex-dirigente do Portugal Pró-Vida (PPV).
Já perto da hora de almoço, Luís António Alves defendeu que o Chega "é o partido da direita conservadora, não é o partido da democracia cristã", carregando mesmo nas tintas ao dizer: “democracia cristã e peditórios que levaram os outros partidos a percentagens residuais, não queremos nada neste momento” – uma referência ao CDS e à derrocada eleitoral que tem marcado a vida do partido liderado por Francisco Rodrigues dos Santos.
O congressista foi sendo aplaudido, elogiou recentes entrevistas do líder do partido, André Ventura, e acrescentou que o Chega é o "partido das pessoas comuns, dos portugueses de bem e que têm as suas quotas em dia", reforçando que "a única coisa" a fazer é "responder aos problemas das pessoas sem dualidades ideológicas, de forma a corresponder ao aumento de voto no partido Chega".
A matriz ideológica do partido não pode ser também religiosa, basicamente é esta a mensagem desta moção de Luís António Alves. "O Chega não é um partido onde a religião seja um tema; o credo religioso de cada um é o credo religioso de cada um", afirmou, recebendo algumas palmas pelo meio.
Durante a intervenção, o congressista pediu ainda um partido que "defenda os valores da nacionalidade e as tradições e costumes do Minho ao Algarve" e que não ceda de "forma nenhuma às pressões ideológicas, às dualidades religiosas e às pressões", que, diz, o partido sofre "todos os dias".
“Mentiras” e “calúnias”, responde Pró-Vida
Este apelo para que não se aceite "a continuidade da supressão e destruição" da identidade ideológica do partido teve uma violenta resposta de um antigo dirigente do Portugal Pró-Vida, partido que esteve na origem do Chega e que se sentiu diretamente atingido, pedindo mesmo a defesa da honra em pleno congresso.
Rafael Santos subiu à tribuna para acusar o autor da moção "Pela clarificação ideológica do Chega" de dizer "mentiras debitadas constantemente" e de lançar "calúnias sobre pessoas" do partido.
A moção alegadamente acusa o Portugal Pró-Vida de condicionar André Ventura (não há acesso público às moções por decisão da direção do partido), o que, segundo Rafael Santos, é "a maior calúnia que aqui pode existir”.
“Se não fosse o Portugal Pró-Vida, não estaríamos aqui neste momento, porque não haveria coligação Basta", afirmou o dirigente do PPV. A coligação Basta foi a fórmula encontrada para as eleições europeias de 2019.
Uma intervenção feita aos gritos e com uma azeda troca de palavras com a plateia que mostrou desagrado com o que ia dizendo Rafael Santos, que renovava as acusações de que a moção é "completamente mentirosa, uma afronta à história deste partido", e considerava "lamentável que isto tenha acontecido com a conivência da presidência da mesa" do congresso.
O ambiente azedou mesmo com esta farpa ao presidente da mesa, Luís Graça, que dirige os trabalhos do congresso com verdadeira mão de ferro e que interveio para pedir "um debate com lealdade, sem clima de hostilidade, mas de urbanidade", chamando a atenção "que a urbanidade está no regulamento desta convenção", garantindo que não irá "permitir que esses limites sejam ultrapassados".
Antes de suspender os trabalhos para almoço, Luís Graça avisou que "fica muito mal qualquer delegado neste congresso vir arrastar a mesa por supostas suposições ou por não ter simpatia pelo presidente da mesa”.
“Fica muito mal", repetiu, avisando que abdicou de "invocar a defesa da honra, porque senão ia incendiar isto muito mais, porque teria muitas coisas para dizer".