O Presidente da República não falou nem um segundo sobre política interna com o primeiro-ministro na África do Sul, mas realçou a "convergência total" entre os dois em matéria de política externa.
Marcelo Rebelo de Sousa respondia a perguntas dos jornalistas no fim das comemorações do Dia de Portugal na África do Sul, na Associação da Comunidade Portuguesa de Pretória, de onde o chefe do Governo, António Costa, saiu mais cedo, para viajar de regresso a Portugal.
Interrogado se teve tempo para falar com António Costa sobre as audições de governantes e ex-governantes desta semana no parlamento, o chefe de Estado respondeu: "Não tive, não tive tempo para falar com o primeiro-ministro, francamente, se não à entrada e à saída das cerimónias, porque foi um programa tão intenso".
"Ele ainda por cima esteve menos tempo, teve de partir mais cedo, chegou mais tarde. E nós trocámos impressões ocasionais sobre o que se passava aqui, as relações Portugal-África do Sul. Concordou comigo com uma prioridade maior a dar à África do Sul, e a África do Sul a dar a Portugal", disse.
O Presidente da República acrescentou que "propriamente sobre Portugal" não falaram: "Não houve, mas é que não houve mesmo, um segundo para falarmos de política interna".
Marcelo Rebelo de Sousa evitou qualificar o estado das suas relações com o primeiro-ministro, mas realçou que "na problemática internacional há uma convergência total".
Questionado se o problema é a política interna, declarou: "Eu não direi que é problema. Direi é que quando estamos verdadeiramente focados na política externa, e estamos no estrangeiro, a parte internacional é fundamental, isso domina as preocupações de um e de outro".
"Nós aqui funcionámos muito na onda de Portugal no mundo, mas das intervenções que eu ouvi do senhor primeiro-ministro ou que eu fiz sobre o senhor primeiro-ministro, por exemplo, na universidade, houve uma preocupação natural no estrangeiro de acentuar a convergência. Quer dizer, não há uma política externa de cada um, há uma política externa única", reforçou.
Nesta ocasião, foi recordado a Marcelo Rebelo de Sousa o momento em que o primeiro-ministro o protegeu com um guarda-chuva durante as comemorações do 10 de Junho em França, em 2016.
Respondendo aos jornalistas, o chefe de Estado manifestou-se certo de que António Costa voltaria hoje a fazer o mesmo, se começasse a chover enquanto estavam juntos na África do Sul: "Ah, eu não tenho dúvidas nenhumas".
"Eu considerava-me muito grato por estar protegido. Foi o que eu na altura disse e senti", acrescentou.
Em matéria de política externa, o Presidente da República salientou que "os programas de viagens são vistos em conjunto" e que ambos têm "conhecimento dos programas de viagem do senhor presidente da Assembleia da República e do ministro dos Negócios Estrangeiros".
Marcelo Rebelo de Sousa recusou comentar a atualidade nacional: "Eu sei aquilo que se passa, mas, primeiro, estou no estrangeiro, não me pronuncio sobre questões internas".
"Neste momento não acrescentar nada àquilo que disse. E eu marquei um calendário, vou agora cumprir esse calendário", reiterou.
Esse calendário inclui a continuação das comemorações do Dia de Portugal, no Peso da Régua, distrito de Vila Real, uma reunião do Conselho de Estado sobre a Europa, a marcação das eleições para a Assembleia Legislativa Regional da Madeira, audiências aos partidos e outra reunião do Conselho de Estado em julho.
O atual modelo de duplas celebrações do 10 de Junho, em Portugal e no estrangeiro, foi lançado por Marcelo Rebelo de Sousa no ano da sua posse, 2016, em articulação com o primeiro-ministro, António Costa.
Desta vez, ao contrário do que aconteceu nos anos anteriores, as comemorações começaram no estrangeiro, cinco dias antes da data oficial, e irão prosseguir em Portugal, no Peso da Régua, distrito de Vila Real.
Quando estava no palco a discursar neste encontro com emigrantes em Pretória, o Presidente da República comentou que o primeiro-ministro parecia preocupado com as horas: "Ele tem de apanhar o avião, e está mesmo no limite, olha para mim com ar desesperado".
"Não, eu quero que corra tudo bem ao primeiro-ministro, portanto, não pode perder o avião e o avião tem de ir certinho até Portugal, para reencontrá-lo lá no Peso da Régua", afirmou.