O cardeal D. José Tolentino Mendonça considera que o carisma dominicano é chamado a ser “particularmente relevante” num tempo de crise, falando no Convento de São Domingos, onde recebeu o hábito da Ordem.
O arquivista e bibliotecário da Santa Sé proferiu uma conferência sobre o simbolismo da mesa, como lugar antropológico, de encontro, “um lugar por excelência da comunicação humana”, a partir da experiência de São Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Pregadores (Dominicanos), falecido há 800 anos.
O cardeal português evocou um homem que “viveu intensamente” e soube criar uma mesa de “companheiros em missão”.
A mesa, acrescentou, é “um lugar de reciprocidades”, de “reconfiguração das relações”, “o lugar por excelência da comunidade”.
“São Domingos escolherá para si e os seus companheiros a forma de vida dos apóstolos, homens livres mandados por Jesus a pregar o Reino de Deus, por toda a parte, sem discriminações”, acrescentou.
D. José Tolentino Mendonça destacou que o impulso inicial da Ordem dos Pregadores deu grande importância a um saber que é mais do que o da erudição e tinha em conta “as condições em que os homens vivem, a condição dos mais pobres”, com particular atenção às “classes populares”.
Por isso, realçou, São Domingos é recordado por muitos como o primeiro “ministro da Educação” da Europa.
Os pregadores, acrescentou o conferencista, devem saber colocar no centro “a vida do outro, a necessidade do outro”.
“A pregação tem de ser por palavras, mas não pode ser só por palavras, tem de ser pelo exemplo da vida do pregador”, precisou.
O especialista no estudo da Bíblia observou que, nos Evangelhos, a mesa é um elemento fundamental para a “revelação cristológica”, que ajuda a perceber quem é Jesus, que reivindica uma vivência religiosa diferente, que “promova o regresso dos excluídos”.
D. José Tolentino Mendonça recebeu na quarta-feira o hábito dominicano, mostrando uma “grande alegria” por passar a estar “no coração desta família”, de que se aproximou de uma “forma natural”.
A Família Dominicana tem a chamada Terceira Ordem, na qual leigos e sacerdotes se inserem; o cardeal português fez profissão nas Fraternidades Sacerdotais como forma de se vincular aos Dominicanos, acedendo a um convite da Ordem dos Pregadores.
Frei José Nunes, provincial português dos Dominicanos, presidiu à oração de Vésperas, elogiando a “discrição” com que a celebração decorreu, por desejo de D. José Tolentino Mendonça.
“Para nós é uma alegria”, realçou, falando do cardeal português como um “homem da palavra”, da poesia à investigação teológica e à pregação.
“Este compromisso, no fundo, é o selar de uma caminhada” de alguém que assumiu o espírito da Ordem dos Pregadores, acrescentou.
A intervenção evocou relações e amizades “muito concretas” de D. José Tolentino Mendonça com vários dominicanos e dominicanas, como frei José Augusto Mourão, frei Mateus Peres ou as Monjas Dominicanas do Lumiar.