Esta quinta-feira assinala-se o Dia Mundial da Luta Contra o Cancro e o atraso no diagnóstico da doença tem sido apontado como a principal preocupação, desde o início da pandemia.
Apesar do rastreio gratuito do cancro da mama ter retomado a normalidade e cobrir novamente 100% do território nacional, “a nível do colo do útero e colorretal há muitos atrasos, porque são rastreios que estão, sob o ponto de vista operacional, muito mais dependentes dos centros de saúde, do espaço físico”.
“Nós temos e continuamos a ter, desde março, todo um conjunto de diagnósticos precoces que estão com atrasos e realmente é uma situação lamentável e preocupante. É uma situação que vai ter de, mais tarde ou mais cedo, ser resolvida”, adianta à Renascença o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC).
De acordo com as estimativas de Vítor Rodrigues, cerca de mil cancros estão por diagnosticar, desde março de 2020. Os IPO tinham já avançado que, desde o início da pandemia, registaram uma diminuição da referenciação de novos doentes de cerca de 20 a 25%, em média.
“Esta falta de referenciação para os hospitais é um dos problemas principais”, refere o presidente da LPCC. No entanto, não é problema único.
Nos últimos onze meses, aumentaram em cerca de 35% os pedidos de apoio social, por parte de doentes oncológicos.
“Nós estamos preparados, além deste aumento, daqui a uns meses, quando acabarem os lay-offs, quando acabarem as moratórias, para responder a mais esse acréscimo de pedidos. Temos um pé de meia, digamos assim, que foi construído ao longo dos anos, devagarinho, para conseguirmos responder a problemas como este”, garante Vítor Rodrigues.
De acordo com a Sociedade Portuguesa de Oncologia SPO, que lançou recentemente a campanha digital “O Cancro não Espera em Casa”, o impacto da pandemia causou uma quebra de 60 a 80% dos novos diagnósticos de cancro, números "preocupantes" e com efeitos, "a médio e a longo prazo, que serão, infelizmente, visíveis na diminuição da sobrevivência e da qualidade de vida".
Vítor Rodrigues atecipa, ainda, um aumento da procura, assim que o agravamento da pandemira começar a abrandar. "A partir do momento em que, por exemplo, os centros de saúde possam abrir-se mais à população para a doença chamada não Covid-19, devemos começar por estabelecer circuitos próprios. Aliás, foi isso que foi feito nos grandes hospitais, por exemplo nos IPO, com espaços próprios, circuitos de referenciação e circuitos de atuação".
Para o dirigiente é, também, preciso "prever que vai haver, vou-lhe chamar duas vagas, isto é, os diagnósticos no seu tempo normal e aqueles que estão atrasados ou estão adiados. Isto é, vamos ter maior incidência artificial, durante dois, três ou quatro meses. O sistema de saúde tem de estar preparados para que esse aumento de casos seja rapidamente respondido".