É talvez a derradeira (e mais forte) cartada da primeira-ministra britânica para conseguir que, depois de o já ter visto ser rejeitado em duas ocasiões – em janeiro e março –, ter o seu acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia aprovado no parlamento.
Esta quarta-feira, dia em que os deputados britânicos realizam uma série de votações para tentar desbloquear o impasse em torno da saída e encontrar (ou propor; a votação não é vinculativa, mas, sim, uma sugestão) uma solução para o Brexit, Theresa May reunia-se, ao começo da tarde, com diversos partidos, tendo, avança a generalidade da imprensa britânica, proposto aos conservadores que, caso apoiem o seu acordo, deixará o cargo antes da segunda fase (que corresponde à implementação do acordo propriamente dito) das negociações da saída do Reino Unido, passando o seu mandato a um conservador a designar.
Embora a reunião tenha decorrido à porta fechada, a BBC, citando fontes do partido, avança o que a primeira-minista terá dito que está "preparada para abandonar o cargo mais cedo do que esperava se conseguir uma saída suave e ordeira".
Pouco depois, o Guardian publicava um excerto mais preciso do discurso de Theresa May.
"Sei que há uma ânsia por uma nova abordagem e liderança numa segunda fase das negociações do Brexit. E não vou ser eu que me vou impedi-la. (...) Estou preparada para deixar este cargo mais cedo do que esperava para poder fazer aquilo que é certo para o nosso país e para o nosso partido. Peço a toda a gente [conservadores] que apoie o acordo, para podermos completar o nosso dever histórico de cumprir a decisão do povo britânico e sair da União Europeia de forma suave e ordeira", prometeu a primeira-ministra.
Ainda não é claro, no entanto, que o acordo alcançado por Theresa May junto de Bruxelas possa ser novamente votado na sexta-feira.
O presidente do parlamento britânico, John Bercow, voltou a avisar a primeira-ministra que o acordo de retirada do Reino Unido só pode voltar pela terceira vez a votos se apresentar mudanças significativas – e não parece haver tempo (nem vontade de Bruxelas em renegociar) para alcançar tais mudanças. "Espero que o governo satisfaça o teste da mudança", afirmou John Bercow esta quarta-feira, alertando o Executivo que "não deve tentar contornar" a sua decisão.
Theresa May, recorde-se, já tinha prometido, ao responder a uma moção de censura dentro do Partido Conservador, em dezembro do ano passado, que pretendia demitir-se antes das eleições legislativas de 2022.