A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, considera que o Governo não tem feito um trabalho eficiente na comunicação do risco da covid-19, alertando ainda para a falta de apoios sociais que permitam cumprir as restrições.
Catarina Martins falou esta quinta-feira aos jornalistas, na sede do Bloco de Esquerda, em Lisboa, no fim de uma reunião com um grupo de técnicos auxiliares de saúde e representantes sindicais, que reivindicam a criação e regularização da sua carreira.
Questionada sobre o número recorde de casos que o país atingiu na passada quarta-feira e eventuais medidas restritivas que possam vir a ser tomadas pelo Governo, hoje reunido em Conselho de Ministros, a dirigente apontou “dois aspetos fundamentais”.
“Em primeiro lugar, as condições objetivas para as pessoas se protegerem. Isso significa que quando há medidas de restrição tem de haver medidas de apoio social e económico, porque quando pedimos às pessoas para pararem e não lhes damos condições de sobreviver, estamos a dizer-lhes que elas não conseguem parar e terão de arranjar alguma forma de ter rendimento e com isso, naturalmente, enfim, mais contactos e mais problemas para a saúde”, sustentou.
A coordenadora do BE pediu ainda “pedagogia”, para que “as pessoas percebam como é que o vírus se transmite, o que é que é perigoso e como é que se pode proteger, como é que cada um de nós se pode proteger e pode proteger os seus”.
“O que tem faltado até agora, do nosso ponto de vista, é não só uma correta comunicação do risco à população, como também medidas eficazes de apoio social e económico para que as restrições sejam seguidas”, sintetizou.
A par destes pontos, Catarina Martins insistiu na importância de “mobilizar toda a capacidade de saúde instalada em Portugal”, tendo em conta o número de casos de covid-19 no país e uma eventual terceira vaga, “integrando a capacidade privada e social no SNS, pagando-lhes preços de custo justos, normais”.
“O Governo até hoje nunca utilizou a capacidade que tem desde março de colocar a capacidade instalada na saúde social e privada integrada no SNS e a responder de forma coordenada com o SNS. É, do nosso ponto de vista, um erro”, apontou, lembrando que “o estado de emergência dá essa oportunidade” ao executivo.
Questionada sobre se o aligeiramento de medidas no Natal foi um erro, Catarina Martins disse não imaginar “que se pusesse um polícia em cada ceia de Natal” e insistiu na necessidade de apoios para que algumas atividades económicas tivessem conseguido parar e os trabalhadores pudessem ter sido melhor protegidos.
O Bloco de Esquerda vai ainda aguardar para ver “o que dizem os técnicos” na reunião no Infarmed, marcada para o próximo dia 12 de janeiro, sublinhando que quaisquer medidas que sejam tomadas têm de ter em conta “a melhor ciência e o melhor conhecimento do que se está a passar”.
Depois de ter estado reunida com um grupo de técnicos auxiliares de saúde cerca de duas horas, em videoconferência, a dirigente bloquista lembrou que estes profissionais também estão na linha da frente do combate à pandemia, considerando “insustentável” que ganhem o salário mínimo nacional com contratos de apenas quatro meses.
“Esta é uma situação insustentável e portanto ao governo não cabe neste momento baixar os ombros e dizer que estamos com um problema porque não há gente suficiente para ajudar nos hospitais ou nos lares, O que é preciso é reconhecer a carreira dos técnicos auxiliares de saúde, reconhecer-lhes um salário digno, reconhecer-lhes salários efetivos”, vincou.
A Assembleia da República vai discutir e votar na próxima sexta-feira um projeto lei do BE que pretende criar e regularizar a carreira dos técnicos auxiliares de saúde, objetivo que já foi ‘chumbado’ no parlamento na discussão na especialidade do Orçamento do Estado para 2021.
No final da conferência de imprensa, Catarina Martins foi ainda questionada sobre a audição da Ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, que decorre esta tarde no parlamento, dizendo apenas que o partido “espera todas as explicações e não menos que isso” relativamente à polémica do procurador europeu José Guerra.