O antigo presidente do Novo Banco Vítor Bento considerou hoje "óbvio" que os "decisores políticos" que deram a garantia ao BES Angola (BESA) tenham recuado perante as "complicações" apresentadas na altura da resolução do BES, em 2014.
"Aquela garantia é um ato político. É um documento político que resulta de uma decisão política. É óbvio que havendo, chamemos-lhes, complicações políticas supervenientes, que os decisores políticos, sobre ela, tenham repensado o seu problema", disse Vítor Bento na comissão de inquérito às perdas do Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução.
"Ainda por cima tendo todos os instrumentos para lidar com ela na sua própria jurisdição, [é óbvio] que tenham lidado com ela da forma como lidaram", reforçou Vítor Bento acerca da reversão da validade da garantia.
O antigo responsável do Novo Banco referia-se à garantia prestada por Angola, suportada por uma deliberação do Presidente da República angolano de então, José Eduardo dos Santos, sobre a dívida do BESA.
A exposição do BES ao BESA entre 2008 e 2014 passou de 1.700 para 3.300 milhões de euros, sendo correspondente a 47% dos fundos próprios do BES à data da resolução.
Vítor Bento disse também ao deputado Alberto Fonseca (PSD) deconhecer os elementos da garantia, como os devedores do BESA ou de diligências no sentido de executar a garantia.
"A interpretação prevalecente era de que valia. Muita gente que a tinha analisado profundamente, detalhadamente... portanto para mim valia. Era um conjunto de documentos que para ser lida, estudada e discutida com outros, levaria o tempo que eu precisava para atender a muitos outros incidentes que iam surgindo todos os dias na vida do banco", referiu.
Vítor Bento relembrou que "a garantia não foi posta em causa até ao dia da resolução, no dia da resolução foram feitos provisionamentos e daí para a frente aconteceu o que aconteceu", com a sua revogação, dizendo ainda não saber o que aconteceu ao dinheiro envolvido.
No dia 10 de março, o PSD já tinha anunciado um requerimento a solicitar uma "cópia da garantia soberana prestada pela República de Angola a favor do Banco Espírito Santo e de todos os anexos que a integram".
O grupo parlamentar do PSD também pediu que esses documentos sejam solicitados ao BES em liquidação, ao Novo Banco e ao Banco de Portugal. .