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O Presidente da República contactou, ao longo do fim-de-semana, responsáveis dos vários partidos a propósito da polémica sobre a existência ou não de um acordo para que os administradores da Caixa Geral de Depósitos não tivessem de entregar declarações de rendimento e património. Ao que a Renascença sabe, Marcelo Rebelo de Sousa também voltou a receber António Domingues, o presidente da Caixa Geral de Depósitos que deixou o lugar no fim de 2016.
Depois de a polémica sobre a Caixa ter regressado, com a publicação de mails enviados por Domingues à equipa das Finanças, Marcelo Rebelo de Sousa fez, na quinta-feira, uma declaração em que defendeu o Governo e Mário Centeno. Mas também deixou implícita uma condição: "Ou há um documento escrito pelo senhor ministro das Finanças em que ele defende uma posição diferente da posição do primeiro-ministro ou não há. Se não há é porque ele tinha a mesma posição do primeiro-ministro, para mim é evidente.”
No fim-de-semana, contudo, foi crescendo a preocupação do Presidente com o caso. E também com a sua própria posição, devido às críticas saídas inclusive do PSD sobre a sua “colagem” ao Governo. Críticas tanto da direcção social-democrata, por Marco António Costa, como de sectores de oposição interna, como o seu apoiante José Eduardo Martins, e que acabaram também por ser feitas por Marques Mendes, que é conselheiro de Estado escolhido pelo próprio Marcelo e que foi líder parlamentar quando o actual Presidente liderou o PSD.
No seu habitual comentário, na SIC, Marques Mendes disse que preferia que, neste caso, o Presidente tivesse ficado calado. Mas, ainda antes do comentário de Mendes, já Marcelo estava a fazer contactos para tentar resolver ou, pelo menos, esvaziar de novo este caso.
O Presidente falou com vários responsáveis políticos, aos quais, segundo foi relatado por fontes partidárias à Renascença, foi dizendo que estava a pensar chamar o ministro das Finanças. Marcelo foi também avisando que mantinha a sua opinião de que seria um erro deixar cair Mário Centeno por causa deste caso. A alguns responsáveis partidários admitiu mesmo que ponderava fazer ele próprio uma comunicação depois de se reunir com o ministro.
Afinal, quem fez a comunicação foi Centeno que, na conferência de imprensa, assumiu que se encontrou esta segunda-feira com o Presidente a conselho do primeiro-ministro. Recorde-se que, constitucionalmente, a relação do Presidente com o Governo é feita através do primeiro-ministro, pelo que formalmente não pode ser o chefe de Estado a chamar um ministro, mas pode fazê-lo através de António Costa.
Centeno foi, então, dar mais explicações a Marcelo Rebelo de Sousa que, entretanto, no fim-de-semana também tinha voltado a falar com António Domingues para avaliar que documentos existem e que poderiam ainda ser divulgados sobre este assunto.
Com o primeiro-ministro fora – em visita aos militares portugueses na República Centro-Africana – Marcelo e Centeno reuniram-se ao início da tarde e acertaram que seria o ministro a convocar a comunicação social, assumindo que tinha ido a Belém.
O Presidente e o primeiro-ministro, entretanto, voltaram também a conversa e, depois de Centeno dar a conferência de imprensa, o gabinete do primeiro-ministro divulgou um comunicado em que António Costa diz que, depois de falar com Marcelo, entendeu manter a confiança no seu ministro das Finanças e reafirma aquela que é, no fundo, também a tese de Marcelo: o que Mário Centeno tem feito é demasiado importante para que saia do Governo por causa deste caso.