A prevenção de abusos sexuais, mas também de incidentes violentos ou assaltos, é uma preocupação da Jornada Mundial da Juventude (JMJ 2023 Lisboa), que pediu ajuda à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) para preparar o evento. Apesar do historial das Jornadas indicar que se trata de um acontecimento pacífico, é internacional, e há que proteger peregrinos e os voluntários.
O presidente da Fundação JMJ, D. Américo Aguiar, que já conhecia o trabalho da APAV, no âmbito da Comissão de Proteção de Menores do Patriarcado de Lisboa, sublinha a importância desta parceria: “Foi um alívio poder receber o sim e a disponibilidade deles, e estamos na fase de ver o que é que se tem de fazer, para que a APAV possa, em nosso nome e connosco, assumir esse dossier."
“Achámos importante que este trabalho pudesse ser o mais transversal possível, ou seja, de presença e de resposta a várias e diferentes possibilidades de incidentes que possam ocorrer”, esclareceu ainda o bispo auxiliar de Lisboa.
A prevenção não se coloca apenas em relação aos abusos sexuais. Por isso, todos os que já estão a trabalhar na JMJ tiveram de fazer prova da sua idoneidade. “A APAV recomendou-nos, e nós aplicámos isso de imediato: todos os nossos voluntários e trabalhadores na estrutura do COL (Comité Organizador Local da diocese de Lisboa) fomos convidados a apresentar o nosso registo criminal”, revelou Américo Aguiar.
“Isso não resolve nada, mas é um sinal daquilo que significa a nossa proatividade para evitar qualquer incidente que aconteça. Porque, se é grave e é uma ferida aberta ter acontecido, sermos coniventes por não fazermos o que é preciso para impedir que aconteça, seria muito mais grave”, sublinhou.
Estão também definidas regras para quem vai acolher peregrinos em casa, terão de ser sempre dois por família, cuja escolha e seleção passa pelas paróquias. Todos os jovens com menos de 18 anos terão de estar acompanhados por um adulto.
O presidente da Fundação JMJ não sabe se as notícias de abusos de menores e alegados encobrimentos na Igreja em Portugal vão condicionar, ou não, as inscrições na Jornada Mundial da Juventude. Mas fez questão de reafirmar o empenho total da Igreja no combate a este grave problema, e a confiança nas investigações que estão a decorrer.
“Não podíamos estar mais positivamente empenhados. Aguardamos o relatório final da comissão independente e o que decorrerá daí, mas para a JMJ propriamente dita, é muito positivo o que a Igreja está a fazer. Com percalços, ruídos e incidentes, mas está fazer, e isso é que é importante”, afirmou, garantindo: “nada nos parará neste processo de transparência e tolerância zero”.
Em declarações no final de um encontro com jornalistas, para dar conta dos preparativos da JMJ do próximo ano, D. Américo Aguiar não quis dizer se as inscrições poderão abrir já este fim de semana, tendo em conta que sábado é o dia de S. João Paulo II, fundador da Jornada Mundial da Juventude. O bispo reafirmou apenas que o Papa será o primeiro peregrino a inscrever-se, como é habitual, e que “as inscrições no mundo inteiro ficam abertas a partir desse momento”.
A 283 dias do início da Jornada Mundial da Juventude, Américo Aguiar agradeceu a disponibilidade quer do governo, quer das autarquias de Lisboa e Loures, nos preparativos do evento, que trará jovens do mundo inteiro a Portugal. E sublinhou o envolvimento de diversas entidades, como a Associação Nacional de Municípios, ou o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que está a tratar dos vistos de muitos peregrinos.
Duarte Ricciardi, secretário-executivo da JMJ, explicou que ainda estão a ser preparados o plano de segurança (pelo Serviço de Segurança Interna) e o plano de mobilidade, que será definido pelo governo, e é com base nesses planos que serão escolhidos os melhores espaços para cada evento da JMJ.
Américo Aguiar garantiu que, para já, o Parque Tejo, junto ao rio Trancão, “é o único que está fechado”, tendo sido apresentadas imagens aéreas que mostram o evoluir das obras que começaram em março.