Esta terça-feira faz um mês do início da guerra entre Israel e o Hamas. A sete de outubro, os ataques do Hamas no sul de Israel mataram 1.400 israelitas. Nos 31 dias que se seguiram, a retaliação israelita em Gaza provocou mais de 10 mil vítimas mortais e praticamente metade são crianças.
Como chegamos aqui?
Antes de mais, é preciso entender as origens do conflito israelo-palestiniano, que dura há mais de 70 anos, e que é uma soma de tensões políticas e religiosas que começaram após a II Guerra Mundial.
O primeiro episódio deste longo conflito aconteceu em 1948, na sequência da revolta dos palestinianos que não concordaram com a divisão territorial proposta pelas Nações Unidas, na chamada solução de dois estados.
A revolta palestiniana culminou com a guerra que teve como consequência o êxodo de mais de 700 mil árabes palestinianos que foram expulsos das suas casas, na sequência da vitória israelita. Um episódio que ficou conhecido como 'Nakba', que é a palavra árabe que significa catástrofe ou desastre.
Mas a solução de dois estados nunca foi possível. Porquê?
Porque, nas décadas seguintes, multiplicaram-se os episódios de tensão, com atentados terroristas por movimentos pró-Palestina e retaliações de curta duração por parte dos israelitas.
Ao longo de décadas, todas as tentativas para paz na região fracassaram. E, no final de tudo, ambos os lados mantêm-se inflexíveis: se Israel exige o seu reconhecimento como um estado judeu, a Palestina pede o fim da ocupação na Cisjordânia e o levantamento do bloqueio à Faixa de Gaza, um território com 365 quilómetros quadrados, onde vivem mais de dois milhões de pessoas, entre as fronteiras de Israel e do Egito, sem a possibilidade de circular livremente.
É uma das áreas mais densamente povoadas do planeta, onde cerca de metade da população vive abaixo da linha de pobreza e 40% tem menos de 14 anos.
Mas, afinal, o que é o Hamas e o que pretende?
O Hamas é, ao mesmo tempo, um partido e um grupo paramilitar que governa a Faixa de Gaza desde 2007. Objetivo: a destruição do estado israelita e a instituição de um estado governado sob uma autoridade religiosa.
Como se explicam os ataques de 7 de outubro?
Há várias leituras possíveis, e todas elas jogam com o lado mais emotivo da causa palestiniana: por um lado, por via da propaganda, com uma ação que aumenta a popularidade do Hamas junto dos palestinianos.
Outra leitura possível: a captura de reféns israelitas como forma de pressionar o governo de Benjamin Netanyahu a libertar parte dos 4.500 palestinianos detidos em prisões israelitas.
Este ataque é comparável com outras ações do passado?
Não. Esta ação de 7 de outubro é, de facto, a maior operação lançada a partir de Gaza e é, também, o incidente transfronteiriço mais grave que Israel alguma vez enfrentou no quadro do conflito com movimentos palestinianos.
Não só pela forma cruel como muitos israelitas foram mortos, mas também - e este é um ponto importante - pela forma como a barreira de segurança israelita foi anulada.
Esperava-se que cerca com arame farpado, com vigilância reforçada, pudesse funcionar como uma barreira inteligente.
A verdade é que o Hamas conseguiu abrir caminho, entrando por via marítima e de parapente.
Que papel tem o Irão em tudo isto?
O Irão, como sabemos, é um dos principais inimigos de Israel na região.
Especula-se que as ações de 7 de outubro possam ter contado com o patrocínio do regime de Teerão, um dos maiores rivais do estado israelita. Apesar disso, o líder supremo iraniano, o ayatollah Ali Khamenei já negou o envolvimento do país.
Por outro lado, tanto o Irão como o Hamas estão contra a possibilidade de um acordo de paz, que seria histórico, entre Israel e a Arábia Saudita.
Daí que o objetivo do Hamas tenha sido o de levar a cabo uma ação contra cidadãos israelitas, motivando uma retaliação de tal modo agressiva que acabe por gerar a ira generalizada de todo o mundo árabe, frustrando qualquer horizonte de normalização de relações entre Telavive e a monarquia saudita, rival de longa data de Teerão na disputa pela influência na região.