As questões levantadas pelo Papa, na audiência geral desta quarta-feira, ajudam a esclarecer em que consiste a esperança de Deus que, às vezes, “parece selada sob a pedra da desconfiança”.
Francisco recordou que foi na cruz, o mais terrível instrumento de tortura, que Deus obteve o maior sinal do amor. “Aquele madeiro de morte, transformado em árvore de vida, lembra-nos que os inícios de Deus começam muitas vezes a partir dos nossos fins: é assim que Ele gosta de fazer maravilhas”, afirmou. “É assim que a esperança de Deus germina, nasce e renasce nos buracos negros das nossas expectativas desiludidas”
Nesta Semana Santa, o Papa convida a “olhar para a árvore da cruz, para que em nós brote a esperança, para sermos curados da tristeza com que adoecemos, da amargura com que poluímos a Igreja e o mundo. Olhemos para o Crucifixo. E o que vemos? Vemos Jesus despojado e ferido.” E acrescenta: “enquanto nos adornamos de aparências e coisas supérfluas, assim não encontramos a paz”. Pelo contrário, “Jesus despojado de tudo lembra-nos que a esperança renasce fazendo a verdade sobre nós próprios, abandonando as ambiguidades, libertando-nos da convivência pacífica com as nossas falsidades”.
Limpar o coração de tudo o que é inútil e tóxico
Francisco considera necessário regressar ao coração, ao essencial, a uma vida simples, despojada de tantas coisas inúteis, que são sucedâneos de esperança. “Hoje, quando tudo é complexo e corremos o risco de perder o fio à meada, temos necessidade de simplicidade, de redescobrir o valor da sobriedade, da renúncia, de limpar o que polui o coração e nos deixa tristes. Cada um de nós pode pensar numa coisa inútil de que se pode livrar para se reencontrar”.
Para sublinhar esta ideia, o Papa acrescenta um episódio recente: “Há 15 dias, em Santa Marta, onde moro - que é um hotel para muita gente - correu a voz que, nesta Semana Santa, seria bonito olhar para o roupeiro e desfazer-se das coisas que temos e não usamos… vocês não imaginam a quantidade de coisas! É belo desfazer-se das coisas inúteis. E foi tudo para os pobres e necessitados.” E como “todos nós temos tantas coisas inúteis dentro e fora do coração”, Francisco convidou a olhar “para o roupeiro da alma” para descobrir quantas dessas coisas supérfluas e “ilusões estúpidas” temos lá dentro. “Regressemos à simplicidade, às coisas verdadeiras que não precisam de maquilhagem. Eis um bom exercício!”, concluiu.
Ainda sobre a verdade de nós mesmos, o Santo Padre esclareceu que
“a questão não é ser ferido pouco ou muito pela vida, mas o que fazer com estas feridas. Posso deixá-las infectar no rancor e na tristeza, ou posso uni-las às de Jesus, para que também as minhas chagas se tornem luminosas.”
Sim, as nossas feridas “podem tornar-se fontes de esperança quando, em vez de nos lamentarmos, enxugamos as lágrimas dos outros; quando, em vez de ter ressentimento pelo que nos é tirado, cuidamos do que falta aos outros; quando, em vez de nos inquietarmos, nos debruçamos sobre quantos sofrem; quando, em vez de ter sede de amor por nós próprios, saciamos a sede de quem precisa de nós. Pois só nos reencontraremos, se deixarmos de pensar em nós mesmos”, afirmou o Santo Padre.